Emotion transcends language.

Leroy: Don't you love him?
Samantha: I think that's the problem. We love each other too much.

Samantha: I have to ask you a question. It's a good one so think about it. If two people love each other, but they just can't seem to get it together, when do you get to that point of enough is enough?
Jerry: Never.





Gostava especialmente de ser daquelas pessoas que não se preocupa. Que deixa tudo passar à sua volta e continua convictamente a acreditar que o ruído de fundo não é do mundo que está a ruir à sua volta. A cair aos pequenos bocados, ferindo por dentro.

Gostava especialmente de fazer parte daquelas pessoas que mantêm relacionamentos lindos, simples, que aceitam tudo o que há e não há para aceitar. Com um sorriso na cara e um "espero-te logo à noite no teu lugar vazio da cama".

Mas não sou mesmo. Não consigo aceitar. Sou assim mesmo, sou o que sou. Desta mesma forma. E não é um ultimato. É mais um esforço que faço por ti.

muitas vezes nem sei se nos amamos ou simplesmente amamos a ideia de nos amarmos um ao outro

tem dias em que se torna complicado. eu transformo-me na pior pessoa do mundo e só me apetece farejar tudo e mais alguma coisa à procura daquilo que sei, precisamente, que não quero encontrar. dia a dia surpreendes-me. quase nunca pela positiva.
ou então sou eu demasiado exigente e perfeccionista para não ver essa tuas lindas acções e gestos.
dizias no outro dia "ir trabalhar todos os dias para o último sitio da terra para onde eu queria ir deveria ser a maior prova de amor. faço-o por nós e pela nossa vida". e nesse mesmo dia dizes-me com todo o ar natural do mundo "sim, gosto muito da P. somos amigos e temos um química muito forte". por muito que eu não queira, a última frase anula catastroficamente a primeira. é qualquer coisa tipo holocausto cá dentro, mas sem os julgamentos de guerra. porque a única prisioneira aqui sou eu.
sim é verdade, reduziste os litros de etanol por semana, passaste a não partir coisas, tomas sempre certinho os comprimidos, já não atiras cenas pela janela e aprendeste a sentar à beira da cama a conversar como um menino crescido (embora a conversa não possa durar mais de cinco, dez minutos e desde que não caia demasiado para o teu lado).
e depois descubro sempre uma garrafa que afinal estava cheia era de água ("oh isso foi há tanto tempo, eu já não faria isso nunca mais ..." hum hum). e depois é a mensagem a cair no telemovel, a chamada rejeitada, e as horas que passas na casa de banho trancado a fazer sabe-se lá o quê !

contigo é sempre assim. bombas nucleares constantemente a cair no meu jardim.
gritas comigo que fazes imenso nesta casa, quando eu te peço por um pouco de ajuda "porra!". "Já fiz uma máquina de louça e limpei os peixes ! " respondes com ar de ofensa como se eu te tivesse dito que o teu nariz torto consegue ser pior que as orelhas de dumbo.
boa . e eu a seguir a ti tive de ir limpar a cozinha, bancada, chão, louça que não coube na máquina, paredes e fogão; ao mesmo que tempo que encho a wc de spray, arrumo o quarto, faço e estendo duas máquinas de roupa, lavo o frigorífico, tiro o spray da wc, lavo a banheira, sanita, bidé e ainda ponho o espelho a brilhar; e consigo pensar nas contas, no jantar, e na P., na A., na C. e nas gajas todas com quem tens uma "química especial de amigo".
quero lá saber se elas entendem as tuas piadas, sem têm 50 ou 100 quilos e se me dizes que é a mim que queres. quero lá sabes se são a tua companhia no café no trabalho que não gostas. também não gosto do meu, f'dasse. e não ando a gastar o meu charme pelos caminhos do mundo, para depois chegar a casa e jogar PS.
foste jantar a casa do B. no outro dia para te despedires da V. aquela que me disseste ter sido "o amor da tua vida" (sim, mais uma merda que engoli e enfiei no saco). eu não disse nada e vieste encantado com os putos e com o B. ter dito que qualidade de vida era ir para casa depois de um dia de trabalho e poder passar tempo com a mulher. por momentos até acreditei. (como quase sempre!)
mas a maior do tempo, tu escondeste nos jogos de carros a fugir da polícia que é quando dá mais pontos e eu venho para o escritório fingir que nada é. até gosto de estar sozinha,

e agora que depois de ir ao dôtor psiquiatra e andar a indutores do sono, ansiolíticos e anti-depressivos, nada melhora, só me parece pior.

porque tenho medo de melhorar. de abrir os olhos voltar a ganhar aquela energia que sempre tive dentro de mim e dizer-te que chega. não quero saber de comprar carros, casas T2, nem de putos a correr pelo corredor.
não quero saber de ti. 
e tenho medo disso.

não apaguem o amor

Para ti o fazer amor só existia nos filmes. Disseste-me algumas vezes que não sabias o que isso era, nem sequer te fazia sentido. Era uma invenção lamechas dos filmes e para ti só havia o sexo. Mesmo que fosse com o teu amor (o que deixa a dúvida no ar se alguma vez alguém terá sido o teu amor...)
O único verdadeiro objectivo de toda a situação era vires-te. E ouvir isso pode magoar muito qualquer namorada ou amante. De qualquer das maneiras, como em todas as outras situações, calei e esqueci o que ouvi.
Não sei bem o que te incomodaria mais? Os preliminares? A troca de olhares envolventes? Medo de ser descoberto? De te deixar levar, de te deixar perder? Tu nunca te deste todo ...
Começava sempre com beijos longos e molhados. Nunca os davas em situações normais por isso quando vinham eu já sabia bem o que queriam dizer. E tive de aprender a aceitá-los assim mesmo: como um prenúncio do corpo. Durava apenas o tempo que de demorar. Nem a mais, nem a menos. E no fim, deixavas-te render, (talvez pelo cansaço?) e o teu braço levantava-se à espera que adormecesse no teu peito.
Quando, no início, isto acontecia muitas vezes, e muitas vezes por dia, eu achava por bem jogar pelo seguro e aceitar todo o movimento tal e qual como mo apresentavas. Mal ou bem o que, na verdade, eu ainda julgava era que a submissão não morava do meu lado, portanto era até bom que não envolvesse sentimento demais. Se assim não fora, tornaria tudo muito mais difícil quando eu quisesse tomar a minha posição de aproveitadora que controla a situação ao pleno.
Mas, este meu papel era apenas uma ilusão minha, criada por ti, não sei. Comecei a esperar mais de um sentimento que em ti era simplesmente vazio. 
Primeiro era a falta de emprego, deixava-te inseguro. E eu, como cavalheiro que sempre fui, aceitei. Depois era a falta de dinheiro e eu ter que pagar tudo. Também compreendi, não há homem que aguente tal posição! Depois era o cansaço do emprego. O stress do emprego. Disseste-me um dia que procuravas a tua mãe em cada relação íntima que tinhas tido e que agora já não sentias a necessidade de procurar mais na mulheres aquilo que sabias ter encontrado em mim, o amor. Disseste-me que a tua procura incessante e desprovida de critério e bom senso, não era mais do que uma busca constante por aquilo que não poderias encontrar. E que comigo nada disso fazia sentido. E eu, como empática que sempre fui, compreendi. Não me querias associar às gajas que andavas a comer antes de mim. Tudo bem.
Mas o tempo foi passando e, às vezes, morria de inveja dessas mulheres que, não tendo tido direito ao teu coração, ao menos do teu corpo tinham desfrutado. E eu, que do teu corpo já mal conhecia, nem a certeza tinha mais de ter tido o teu coração sequer.
Aos poucos foste aparecendo de vez em quando. Muitas vezes nem te davas ao trabalho de me virar. E eu que me viesse se quisesse. E aos poucos quem foi desaparecendo fui eu. 
O fantasma de tudo, de todas as desculpas, todas as razões. O não entender porquê? Quem perde assim o interesse será culpado de todas as acusações presentes? Ou terá, entretanto, uma ocupação diferente? Tudo isto na minha cabeça fazia não me querer aproximar. Mas bastava vires ao longe para que todo o meu corpo, sem que eu nele mandasse, se abrisse todo para ti. Talvez fosse a culpa do amor que eu por ti tinha.
Às vezes calha a vez de ser o momento em que agarras e me beijas longamente. E eu sei bem responder a isso. Nunca falhas na técnica, sempre foste um bom amante. Mas falta-te a entrega de como se de um amor se tratasse. E eu não penso mais nisso. Aproveito o que posso ter, fecho os olhos e imagino-nos como nos filmes, filmados do teto, com música de fundo. Dois amantes apaixonados a partilhar o que de melhor têm em si um pelo outro. O amor. Imagino-nos a fazer amor.

foi sempre assim ..(eu o rato)

.. nunca foi fácil isto de nós os dois. primeiro era eu que pensava que não queria receber-te. o meu coração parecia estar demasiado magoado da passagem anterior. convenci-me a mim própria de que estava a fazer-me difícil para ti quando, na verdade, estava desejosa que alguém abrisse os braços para me receber. tu já tinhas percebido isso (sempre foste estupidamente inteligente para perceber as pessoas) e foste jogando o jogo. mais ou menos como o rato e gato. sempre soubeste bem como conduzir, como convencer e manipular. comigo, antes do tudo, sempre usaste as palavras certas no momento certo. e eu deixei-me ir.
começou por ser divertido. eu em Coimbra, tu em Lisboa, eu não levava as coisas assim tão a sério, enganando-me e pensado que tinha encontrado a coragem para, por uma vez, ser comandante da relação. confiava tanto por não ter medo de perder, nem coragem de enfrentar o futuro. e tu mostravas ciúmes irascíveis que eu acreditava serem de um amor verdadeiro que tinha ali nascido por mim.  gostava tanto disso.
era quase perfeito e eu ignorava os sinais, ignorava o que me desagradava, ignorava a pessoa que sabia que eras .. acho que, no fundo, não queria saber disso para nada. costumavas abrir a mão esquerda e esticar o dedo indicador direito. dizias que há sempre aquele que apanha e o que se deixa apanhar. fechavas com o força o dedo na mão e depois com ele sempre esticado dizias "eu sou este. o apanhado por ti". e sentia-me como uma mão poderosa. mas era um rato.
faltou o emprego, faltou o dinheiro e eu não me importei. nem pensei. eu sempre tive tudo e nunca neguei nada a ninguém. muito menos o meu coração.
e eram as noites e os dias que se misturavam. as horas que se trocavam. eu ia para aulas e tu dormias, eu estudava e tu bebias. e vinham as conversas acesas, as discussões. eu sentia-me sempre culpada no final de cada uma. era o rato que, manipulado, se aninhava no gato.
era o mesmo tecto para nós os dois. e mesma cama. os jantares, as receitas inventadas, os passeios pelas ruas de Coimbra todas as noites. uma rotina imposta pela falta de emprego, a falta de dinheiro e por nunca me faltar nada.
não consegui imaginar outra forma diferente senão voltar para Lisboa contigo e precipitarmo-nos para uma casa. os dois. eu queria-a pequenina, mobilada, uma coisa singela ao jeito dos contos de fadas.  gastar pouco. arriscar pouco dentro do risco maior que era fechar os olhos aquilo que sabia que iria acontecer. tu querias tudo novo, tudo bonito, a cheirar bem, no centro e muito caro. fizeste as birras de sempre para eu concordar. e eu, concordei. mesmo com aquele aperto no estômago, concordei. sabia que não era o certo, tu já andavas distante, pouco carinhoso, na cama não existias há meses e a bebida nunca te deixou ser meu.
entrámos na casa nova. emprego novo. para mim e para ti. 
noites a beber, discussões atrás de discussões. e a culpa que eu sempre senti de tudo. culpa de não entender, culpa de exigir de mais, de não te saber amar, de não saber viver. 
fui engolindo o arrastar de meses que ia ignorando, com gritos, insultos camuflados, as bebedeiras, horas sem saber de ti, as mentiras, os telefonemas sem resposta e as mensagens esquecidas. fui desaparecendo dentro de mim. 
murros na parede, o sofá partido. coisas atiradas pela janela, os ultimatos, as ameaças. e eu ali, entre lágrimas, arranhadelas a mim própria, o bater com a cabeça na chão e o medo de perder tudo.
sempre o rato com medo do que o gato possa fazer, mas com aquela vontade de lhe sentir os bigodes.
roupas. coisas para a casa. jantares. fora e dentro. receitas experimentadas, noitadas ... foi-se o dinheiro e com ele, já há muito, tinha desaparecido a minha inocência. 
mas noite após noite continuava a acreditar sempre que era desta, era desta vez que as coisas mudavam. tu ias querer ser diferente comigo e, principalmente, contigo. ias querer ser crescido, viver uma vida a sério e reconhecer a mulher que tinhas do teu lado
mudámos de casa, mudámos de sítio. as coisas mudaram um pouco. mas as mentiras vieram connosco.   e com elas a sensação continuamente pesada de que sempre me tomaste por demasiado tua, por demasiado cega. e era. Tua. e cega.
rata cega com a perfeita noção de que era propositado o torpor em que me metia. 
Continuava a apetecer-me desaparecer, não existir, deixar de sentir. E tu chamavas-me preguiçosa. E eu na preguiça tratava de tudo, das contas, da casa, do dinheiro que já pouco tínhamos, das limpezas, das arrumações, de ti. E nunca soubeste ver isso.
nunca houve um período fácil e simples. sem preocupações. só felicidade e amor. nunca houve. e sei bem que nunca haverá. porque o mundo não muda, e nós fazemos parte do mundo.
aquilo que és, está dentro de ti e provavelmente eu nunca saberei viver com isso. o que se passa é que, também não sei já como viver sem tudo isto e quando penso em deixar-te o peito vira-se ao contrário cá dentro e parece que o quero vomitar.
não sei, e acho que nunca saberei, entender qual a razão para estares tão presente às vezes e tão ausente na maioria das outras. mas a verdade é que nos poucos momentos em que te sinto comigo, sou a pessoa mais feliz de sempre. e tu fazes sacrifícios. eu sei. mas também sei que nunca serão suficientes.
Porque tu e eu nunca seremos suficientes um para o outro.

D. raises her hand

" Ain't no time two people staring at each other, or standing still, loving both with their eyes are equal. Truth is, someone is chasing someone. That's the way we's built."

na corda bamba

há dias em que não aguento a distância, há outros em que simplesmente não aguento a proximidade. o teu cheiro, a tua voz, as tuas palavras e forma de falar. o teu jeito a caminhar no corredor e de chamar por mim, pelo teu amor. há dias que se não tenho tudo isto e muito mais, não sei o que fazer por dentro. tem outros que, se tenho apenas um pouco de alguma delas, só me apetece fazer desaparecer.
só não sei a ti ou a mim.

rascunhos

os sonhos parados não deixam nunca de ser sonhados