sinto que tenho tudo isto cá dentro guardado. sinto-me a explodir de tudo aquilo que te quero dizer. de tudo aquilo que quero que oiças e compreendas. que não me interrompas. que não menosprezes e não rejeites.
mas não sei o que é tudo isto. está cá dentro e afoga-me, mas não sei o que é.
sinto-me cansada e sem vontade de acordar novamente todas as manhãs. cansada de me preocupar.
sei que tenho tudo aquilo que queria ter. o meu namorado, a minha casa, um trabalho. não gosto deste trabalho. não sei se alguma vez gostarei de algum trabalho. às vezes acho que só serei boa sempre a estudar. assim só me desiludo a mim própria.
estou sempre preocupada em fazer tudo bem, em manter tudo bem. cuidar de tudo. mal sei cuidar de mim própria.
sempre a preocupar-me se te vou deixar sozinho. o que vai acontecer ? tenho sempre o mesmo palpite e ele acontece sempre. vais beber. e o que vai acontecer com isso? vais ficar agressivo ? não vai acontecer nada ? vais habituar-te a beber pouco ? e o pouco vai ser todos os dias ?
nada te interessa. nada te parece interessar na vida. a não ser os filmes e os jogos. pouco interages e quando me mostras de ti é porque bebeste e eu tenho que te ouvir.
queria mostrar-te o meu mundo. mas nunca o vais conhecer.
cansada de ter que pensar no dinheiro, nas contas, nos teus problemas. gosto de fazer parte da tua vida e que faças parte da minha, mas quero ser a tua namorada, não a tua mãe a todos os momentos! quero poder sentir-me segura e sinto que sou eu que cuido de tudo. preciso também que sejas tu a cuidar de mim. preciso que cresças e penses nas coisas de crescido.
acho que não sabes viver sozinho. gostas de não viver sozinho mas, na verdade queres a tua vida, o teu espaço, a tua forma de viver e ver as coisas.
não me vejo a viver sem ti. nem sequer vejo razões para querer viver sem ti. mas, neste momento, também não as vejo para querer. amamo.nos. mas não estamos mais apaixonados. tive momentos vários em que acreditei que sim, mas agora já não sei sequer se terão sido reais.
arrependo-me de ter pensado que te perdia, que não me amarias mais se não cedesse à tua vontade de vir para esta casa. eu própria me convenci disso. gastei o que não queria ter gasto. comprei o que não queria ter comprado. não queria aquele tapete de madeira da casa de banho ! queria um sonho.
e agora já não consigo ter a certeza se ele se vai realizar.
sinto que sou para ti uma chata, rabujenta, sempre a refilar, sempre de trombras. sou a desmancha-prazeres desta casa, nunca satisfeita com nada. e, por um lado, dou-te razão. estou sempre preocupada. com mil coisas. Não consigo relaxar, não consigo divertir-me a 100%.
tenho medo que isso faça com que vás procurar novamente aquilo que não te dou. diversão, boa disposição, descontracção. alguém que te faça sentir bem. porque sinto que não o faço. por outro lado tenho vontade de pensar que sou capaz de aceitar essa condição de que ninguém muda totalmente e que serás sempre aquele que precisa da atenção das mulheres à tua volta. acho que, se assim for, nada poderei fazer para as coisas serem diferentes. e nunca saberei. e prefiro não saber.
gostava que tivesses atenção àquilo que sinto. que não me dissesses sempre que já viveste ou estás a viver pior. já fui criança e sonhei para mim. e sinto-me muito tola por isso. os sonhos só são reais nos contos de fadas.
gostava de construir uma vida e uma família contigo. mas sinto que não estás preparado. nem sei se um dia estarás. dar a tua vida para a partilhar com alguém requer sacrificio. pensar em muitas coisas. arrumar. limpar. organizar. orçamentar. preocupar-se. e, ao mesmo tempo, ter tempo e vontade de dar tempo de si ao outro. e não se esconder.
criar uma vida requer ainda mais sacrifício. o sacrifício de uma vida. para o resto da vida.
tenho medo de pensar que "hoje" ainda não estamos preparados, mas que "amanhã" estaremos, e que isso nunca aconteça, mas que me deixa convencer que sim. não sei se pela ilusão, se pelo cansaço. e arrepender-me.
quero continuar contigo. quero continuar contigo aqui. e que continues aqui. mas tudo isto cá dentro sufoca-me e nem sequer consigo saber o que tudo isto é.