..e então 'as vezes ponho-me a pensar, porque hei-de eu buscar
aquilo que nem sequer sei se em mim quero .
e eventualmente surgem aqueles momentos em que só me apetece
atravessar as pontes que de mim crio e desligar o interruptor daquilo que serão
os gestos (não) pensados e possivelmente nunca ensaiados nos palcos de giz
transparente. mas acabo por não desligar, e chego à margem que não sei
conhecer, mas que imaginei e criei e que por isso existe por entre os segundos
que nela intercalam e se balançam. suspendo-me nas cortinas riscadas pensando
que este será o ultimo momento da peça, e quando minha boca se prepara para
ouvir aquela que seria escrita a minha ultima fala, já meu corpo se dirige para
o prefácio. rescrito e revisitado vezes sem conta pelas pontas dos meus (seus)
dedos.
e mesmo quando surge aquela ansiedade de querer entender e
explicar aquele vontade insípida de sabor flutuante, mas que não quero, não
posso, deixar de sentir, a tentativa de virar os pés para o deserto e deixar o
momento é totalmente inoportuna e minha pele ignora-a como que se de um ponto
final abandonado se tratasse.
porque quando as palavras deixam de existir, e apenas o calor se
ouve, não é meu pensamento que (te) responde mas sim todas aquelas porções,
ínfimas e escondidas, que a mim me fazem e que de mim existem.
..e então às vezes ponho-me a pensar, porque hei-de eu buscar aquilo
que nem sei se em mim quero .
e eventualmente as imagens do que pretendo largar cravam-se em
mim como se o suor permitisse o não despegar do tempo. e, apesar de as mãos
buscarem esses papeis a preto e branco para os largarem nos ventos que trazem
os cheiros que tanto (demais) conheço, perdem-se nos trajectos sombrios e
perfeitos que a voz castiga.
talvez seja o silêncio das coisas a mostrar que nem sempre o
caminho marcado é o percorrido pelo infinito, talvez seja o escuro a dizer que
a média luz exibe o que deseja ser por demais escondido.
talvez eu não queira saber .
..e então às vezes ponho-me
a pensar se o silêncio do escuro não será apenas o tempo daquilo que em mim
adio, por saber que real, será apenas imaginado em mim.
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