e um beijo na despedida

Tenho tanta vontade de te ligar que tenho de torcer os dedos para não clicar no "chamar" .possivelmente sou eu que complico isto tudo .nunca fui muito simples e a vida cada vez mais me ensina que não entendo nada de mim ..
há momentos em que só me apetece gritar ,arrancar partes de dentro de mim e a seguir desaparecer no espaço profundo .num buraco negro (talvez pudesse haver algo de diferente do outro lado ..)
não sei lidar com a maioria das coisas .com as coisas de nós principalmente ..não gosto disto assim ,não gosto desta vida .não gosto de viver separada de ti ,e também não tenho a certeza de que saibamos viver juntos. queria a normalidade de uma vida extraordinária ..mas somos os dois demasiado estragados .temos fantasmas demais .
e normalmente não poderia enviar-te nenhuma mensagem, porque ias ficar nervoso ,porque não ias entender e os filmes faço-os eu sempre sozinha .mas não quero mais guardar pensamentos e sentimentos e enfiá-los à força em folhas de papel rasgadas que acabam por ir para o lixo juntamente com os talões da gasolina
será um crime assim tão grande sonhar? estarei a fazer assim tanto mal ao deixar que o teu telemóvel toque e acenda a luz na mesa de cabeceira que devíamos partilhar?
não aguento conversas banais à espera do comboio não quero falar do meu almoço quando o meu corpo anseia o teu toque , o teu cheiro .se calhar somos feitos para irmos vivendo no imaginário de cada um e há dias em que sinto que devia deixar-te abrir as asas e ir .já nem tenho a certeza do caminho ,e o destino que procurávamos perdeu-se entre mapas de desconfianças ,desilusões e receios .sabe tão bem a areia quente da praia quando me abraças e oiço o teu coração a bater .mas mesmo quando nos tocamos e amamos estamos em esferas diferentes e raras são as vezes em que vivemos na mesma dimensão .tiraram-me o sonho ,a vida que eu queria .para mim .para ti. Contigo .nao me digas que é como antigamente.
antigamente eu não conhecia o sabor ,agora arrancaram-me das mãos sem me pedir licença
se calhar era assim que devia ser .se calhar estamos à deriva a insistir numa viagem que não faz mais sentido. se calhar somos mesmo demasiado diferentes e estou a viver uma ilusão daquilo que idealizei e desejei .só não o consigo admitir .se calhar um dia ,mas por agora so queria ter-tê aqui

18h48

não me venhas dizer que é como antigamente. não venhas.
nem te aproximes sequer.
sabes que te amo demais para aceitar a inverdade das palavras sussurradas ao final de um dia apagado.

antigamente vivíamos na vontade, no querer o horizonte. na imaginação da realidade, numa procura incessante do que poderia e estaria para vir.
e lá estivemos. e chorámos. e gritámos .
e, apesar de tudo, vivemos.

agora arrancaram-me das mãos a vida que eu tinha.
puseram-me à beira do precipício e atiraram-me para o ar.
sinto-me a descer e não há ninguém para me agarrar.

nem sequer tu.

por isso não me venhas com essas palavras mansas. não quero mais saber de conversas banais na estação dos comboios à espera que seja hora de arrancar.
quero a minha vida de volta!

roubaram-ma.
ninguém tinha esse direito.

quartas-feiras

talvez um dia abra os olhos de vez. talvez um dia aceite aquilo que, inevitavelmente, escondo dentro dos meus refúgios e finjo acreditar não existir. somos dois andantes a caminhar separados na mesma estrada. continuamos a fazer-nos crer que vamos em direcção ao mesmo destino mas nem sequer as nossas rotas foram traçadas no mesmo papel.
dia após dia, vamos trocando de papeis. 
ora choro eu por ti, ora lembras-te tu de mim. nem sempre nos queremos perto, mas a longevidade da postura acaba sempre por falar mais alto e encontramo-nos nos cruzamentos de nós

não sabemos viver de mão dada o nosso projecto, mas também não nos sabemos largar.

 não sei se por medo, se por amor raro ou insegurança.
as verdades boiam sempre nas ondas do porto que nos separa. e vamos alternando querer ser barco, querer ser ancoradouro. eu à espera que regresses do alto mar e tu a procurar o farol que te indique que ainda não te afastaste demais. 
Por vezes não sei se deveria simplesmente desligar a luz e deixar-te ir. as minhas paredes iriam ruir por completo, mas aos poucos talvez cada um de nós pudesse voltar a erguer-se da tempestade. 
não sei se não preferias deixar de procurar a luz para poderes encontrar o caminho pelo teu mapa de estrelas. cada vez mais sinto que vens ter ao porto para encontrar a segurança que necessitas quando à deriva te sentes perdido.

os ciclos repetem-se, os momentos de ilhas sucedem-se e, enquanto cada um de nós espera pelo regresso, vão-se colando às estacas de madeira as (in)verdades que as corroem. o tempo gira sempre à volta do mesmo ponto e os ponteiros têm sempre razão pelo menos duas vezes ao dia. vamos vivendo presos nos segundos reais de nós, nos sorrisos e nas gargalhadas soltas, verdadeiras e parvas. porque não conseguimos admitir cá dentro que a dificuldade de ancorar é demasiada e as asas querem-se para se ser livre.

um dia deixo-te ser livre de mim. hoje ainda não sou capaz. 
desculpa.

queres fugir, queres esconder

e assim se perdem os sonhos que um dia me confessaste ter .


o chão que pisas sou eu


Tudo isto se foi precipitando em passos largos de gigantes, sonoros e ruidosos e tu não quiseste ouvir, não quiseste saber.

Pediste-me para ficar sozinho, não conseguimos aguentar nem uma semana. Ao que parece a dependência um do outro falava mais alto do que a necessidade da descoberta (seria mesmo essa a necessidade ou seria já um eco de antecipação?). Tive que sair depois. Não podia mais ouvir as mesmas palavras, ver as mesma acções e deixar-me levar acorrentada para debaixo do poço.
Já nem vivíamos na cave e o poço onde estávamos era cada vez mais fundo.
Mas as palavras e acções mantiveram-se. Ilusão. Desilusão. No meio de um parque de estacionamento, e de alguns cigarros demasiado apressados, prometeste-me que, se te desse espaço e tempo irias mostrar-me como era a mulher da tua Vida. Querias, comigo ser Feliz


Acreditei mais uma vez. Cedi mais uma vez. 
Não faltou muito para as palavras se perderem no vento e te esqueceres novamente das promessas perdidas no frio daquela noite.
A dor era tão grande cá dentro que venci o medo inerte de te perder e quis cortar em pedaços ínfimos e pequenos a caixa que nos protegia. Quis fazer desaparecer esta pseudo-relação que vivíamos, que não era mais do que a doente 'absorvência' um do outro.
Ficaste perdido, disseste-me acreditar não ser o fim. Falaste-me e sussurraste-me todos os dias, fazendo-me crer que a dor da partida era tão grande em ti como em mim. Mas bastou a visão de mim, para mudares de ideias. E, afinal, a vontade de partir era tua.

Queres mas não queres.

Desejas manter a hipótese na prateleira enquanto dizes, vezes sem conta, precisares de descobrir quem és. E eu que te largue, que te deixe. Mas não muito, porque, se assim for, sentes de novo a corda a esticar e ninguém, principalmente tu (!), gosta de sentir o abandono. Não sabes se queres ficar ou se queres ir. Não sabes. 
Nunca soubeste. Nem sei o que queres saber. 
Queres entender o novo "eu" de ti, para poderes viver com um hipotético novo "eu" de mim. E enquanto ambos aguardamos que chegue o comboio dessa nova vida, perdemos o barco daquela que já era a vida por nós vivida. 
Não são os afastamentos que curam os medos. São as palavras, as verdades e as tolerâncias. Mas o medo de perder às vezes é tão grande, que preferimos deitar fora para não sofrer depois a dor do desaparecimento. Se tudo for externo, dói menos cá dentro.

Decides por ti largar no universo frio e (in)finito aquilo que eu fui para ti. É demasiado dificil lidar com o bom que temos, quando o receio de o estragar é maior do que a vontade de lutar por o construir. É melhor lutar contra as ondas e saber que o mundo vai rachar, do que lidar com a calma e paz ensurdecedoras de silêncios.
Planeias um futuro que vive nas tuas mãos no presente. E não entendes que projectar para a frente, só te faz abrir os dedos e deixar pelo caminho a areia que te acompanha, no agora, no presente. As conchas partem-se à medida que as deixas cair no chão e ao andares com os olhos nos céus não vês que "o chão que pisas sou eu"

já não sei de quando [e então]


..e então 'as vezes ponho-me a pensar, porque hei-de eu buscar aquilo que nem sequer sei se em mim quero .
e eventualmente surgem aqueles momentos em que só me apetece atravessar as pontes que de mim crio e desligar o interruptor daquilo que serão os gestos (não) pensados e possivelmente nunca ensaiados nos palcos de giz transparente. mas acabo por não desligar, e chego à margem que não sei conhecer, mas que imaginei e criei e que por isso existe por entre os segundos que nela intercalam e se balançam. suspendo-me nas cortinas riscadas pensando que este será o ultimo momento da peça, e quando minha boca se prepara para ouvir aquela que seria escrita a minha ultima fala, já meu corpo se dirige para o prefácio. rescrito e revisitado vezes sem conta pelas pontas dos meus (seus) dedos.
e mesmo quando surge aquela ansiedade de querer entender e explicar aquele vontade insípida de sabor flutuante, mas que não quero, não posso, deixar de sentir, a tentativa de virar os pés para o deserto e deixar o momento é totalmente inoportuna e minha pele ignora-a como que se de um ponto final abandonado se tratasse.
porque quando as palavras deixam de existir, e apenas o calor se ouve, não é meu pensamento que (te) responde mas sim todas aquelas porções, ínfimas e escondidas, que a mim me fazem e que de mim existem.
..e então às vezes ponho-me a pensar, porque hei-de eu buscar aquilo que nem sei se em mim quero .
e eventualmente as imagens do que pretendo largar cravam-se em mim como se o suor permitisse o não despegar do tempo. e, apesar de as mãos buscarem esses papeis a preto e branco para os largarem nos ventos que trazem os cheiros que tanto (demais) conheço, perdem-se nos trajectos sombrios e perfeitos que a voz castiga. 

talvez seja o silêncio das coisas a mostrar que nem sempre o caminho marcado é o percorrido pelo infinito, talvez seja o escuro a dizer que a média luz exibe o que deseja ser por demais escondido.
talvez eu não queira saber .

..e então às vezes ponho-me a pensar se o silêncio do escuro não será apenas o tempo daquilo que em mim adio, por saber que real, será apenas imaginado em mim.