"E" de Esperança-

7h25.
O despertador toca. Aquele friozinho na barriga. "É hoje o dia!". Toca a levantar, banhoca, pegar nos mapas, pequeno-almoço reforçado e rumo ao ponto de encontro! Mas, de repente, um vislumbre rápido pela janela faz tremer ...chuva ! E não era uma chuvinha, não era um chuvisco ..era chuva!
Não que o cenário chuvoso tivesse retirado qualquer entusiasmo, ou mesmo vontade! A verdade é que me fez temer que os restantes voluntários, olhando para o mesmo que eu, se decidissem ficar por casa.

Saímos de casa (sim, consegui arrastar o meu pai para estas andanças) e lá fomos ter ao local de encontro combinado. Não estava ninguém, mas como tínhamos chegado um pouco antes da hora, não nos preocupámos muito. 10 minutos. 15 minutos. Tudo bem, era sábado e bem sabemos como custa levantar da cama ao sábado de manhã. 20 minutos. O primeiro carro. Era uma das outras coordenadoras do grupo. Bom, pelo menos já não estávamos sozinhos e três cabeças sempre esperam melhor que duas, sempre ouvi dizer. Aos poucos lá foi chegando um voluntário ou outro, mas as restantes coordenadoras. Ao fim de uns dois quartos de hora ainda éramos pouco mais de meia dúzia.
Afinal, os nossos medos não tinham sido assim tão infundados ..o S.Pedro tinha levado a melhor e os voluntários tiveram medo de se molhar. Já a desmoralizar, contactámos o coordenador do grupo de Cascais que, depois de, muito provavelmente, se dar conta do nosso desespero, nos "dispensou" 15 dos seus voluntários. Ficou então decidido que, dos 5 pontos que tínhamos referenciados para intervir, iríamos em primeiro lugar a um dos mais preocupantes, sendo que, quando tivéssemos terminado, iríamos, então, todos juntos para outro. O sítio escolhido foi a Ribeira da Penha Longa, por se encontrar junto de uma corrente natural de água e por ser de fácil acesso aos voluntários.

Pormenor da Ribeira da Penha Longa.

Lá fomos nós, juntamente com o grupo de voluntários de Cascais e mais uma equipa de trabalho de colaboradores do Aki. Quando chegámos ao local, nem sabíamos bem por onde começar. Nada do que pudéssemos ter imaginado, poderia fazer adivinhar o cenário com que nos deparámos ao iniciar as explorações. O lixo espalhava-se por uma área vastíssima uma quantidade de categorias difícil de enumerar: RSU's, pneus (muitos, grandes e pequenos), plásticos, alcatifas, cadeiras, sofás (ou o que deles teria restado), televisões, latas, embalagens, alcatifas (camadas e camadas!), vidros, sapatos, latas ..enfim!

Sem combinação qualquer previamente tratada, cada voluntário rapidamente escolheu um spot de eleição e pôs mãos à obra! Nem era preciso falar ..cada um partilhava o sentimento de que não havia tempo a perder. Agarrámo-nos com unhas e dentes (não literalmente como é obvio!) ao trabalho e nada nos fez parar (a não ser o cansaço ao fim de algumas horas e uns momentâneos e, felizmente, fugazes, momentos de desmoralização).
Crianças, jovens, crescidos, mais crescidos, professores, arquitectos, engenheiros, homens e mulheres.
Quem nos visse de fora ficaria, certamente, convencido que ali se tratava de uma iniciativa planeada e planejada com funções determinadas há tempo suficiente para que não houvesse enganos. Mas não. Simplesmente as coisas aconteceram. E foram acontecendo.

Tudo começou assim, um pequeno monte de saquinhos de lixo separados por categorias...


A equipa do Aki que tanto nos ajudou !

Um monte de alcatifas em camadas que demoraram mais de três horas  a ser removidas, por três voluntários a trabalhar juntos.

O mesmo amontoado de lixo, uns minutos mais tarde, já maior ...

O que começou por um monte de saquinhos separados por categorias, estava assim por volta da hora de almoço!


Quando chegámos à hora de almoço o cansaço era já muito, mas o orgulho alimentava as veias preenchidas pela vontade de "Limpar Portugal". Afinal, não seria possível terminar tudo de maneira a ir a outros dos pontos referenciados. Ficámos com pena. Feita a pausa, muitos já não puderam regressar e outros se juntaram pela primeira vez. Era o início da tarde e ainda demasiado trabalho havia para ser feito!
Mais restos de pneus, garrafas de plástico, couvettes de almoços furtivos, embalagens de preservativos, revistas, jornais, restos de para-choques, rádios de automóveis, rails, garrafas, roupas, embalagens de óleo ..mais um sem número de categorias para limpar.




E, de repente, uma dúvida se instalou sobre todos nós. Será que este sinal, situado bem no inicio do terreno, não estaria suficientemente visível ? Ou seria, talvez, um problema de linguagem ? 



Provavelmente uma nova tentativa em sirílico funcionaria melhor.

E assim fomos trabalhando, carregando, separando, despejando ...até o corpo não permitir embora a cosnciência ( juntamente com a revolta ) nos dissesse para tentar um pouco mais. 


Juntámo-nos todos, à volta de uma fogueira que não existia, a conversar sobre a iniciativa, a ideia, o projecto, os voluntários, o ambiente, o que pode ser feito, o que ainda não se fez .


E foi este o resultado final :


No final do dia, já em casa, com as costas doridas, os pés magoados, as pernas pesadas, os braços sem forças chega o pensamento de que ..apesar de tudo, apesar de não termos reunidos tantos voluntários como o esperado, de não termos conseguido intervir em todos os pontos referenciados, não termos conseguido recolher todo o lixo (nem um mês seria possível! ), apesar de tudo isto ..valeu a pena ! Vale muito a pena .São menos umas toneladas que não estarão a poluir o ambiente. É  mais um conjunto de pessoas que, certamente, terá de agora em diante uma nova visão da ecologia, é mais um grupo de criançass que pensará melhor e agirá melhor quando for adulto.
Eu acredito que sim.
Acredito que marcámos alguma diferença.
E espero, muito sinceramente, que esta seja a primeira de muitas destas iniciativas ! Mesmo com todos os problemas, com as problemáticas das câmaras, das juntas de freguesia, das burocracias, da falta de apoios, da falta de meios, acredito que depois de dia 20 de Março, o Mundo ficou um bocadinho Melhor !

.. Porque é preciso não desistir !

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