é o tempo qe se dobra ao passar ..

" Ele há um sítio entre a estrada e o mar
que fica de fora para quem lá quer entrar
tem uma porta escondida pelo azar
que só se abre para quem lá que entrar
(...)
já lá voltei, já busquei o lugar
não o achei, cansei-me de andar
era tarde, não ia lá mais voltar
àquele sítio entre a estrada e o mar "

como eu .

era capaz de jurar que ouvi a tua voz quando olhei para a outra margem, mas afinal era apenas a minha imaginação a levar-me pelos caminhos de quem se esconde do devorar dos dias.
depois pensei ter-te visto no momento em que tentei reter a imagem de todas aquelas faces que por mim passavam e por mim não olhavam, mas percebi mais tarde que era apenas o reflexo da vontade perdida no arrastar dos tempos.
sei que te senti quando entrei naquela sala, quente, demasiado cheia. tenho a certeza. absoluta.( ou será só certeza? quase a certeza? ) poderá ter sido apenas uma leve sensação de que faria de tudo para que me tocasses?
sim .talvez .
talvez tenha sido o meu desejo de que te recordes do que fui e fomos, e de deixemos de ser o que somos, ou não somos, um para o outro.
queria tanto largar o desconhecimento em que mergulhámos e voltar a penetrar nas noites desgarradas do mundo, salpicadas pela adrenalina (pouco) inocente de viver, apenas viver .
mas sei (quase com toda aquela certeza há pouco perdida) que o que vai não volta e o que é já foi e por isso  aceito que nos deixemos ficar neste crepitar sem força nenhuma. aceito até que passemos a meros conhecidos que cruzam olhares no segurar da porta, mas no meio de tudo isto, o que não aceito é que olhes outros olhos .outro olhar .

" sentada à beira rio, eu vejo correr, ter a vida por um fio, deitá-la a perder. como eu. "

todos os dias da minha vida .

hoje era capaz de ir até ao fim do mundo do mundo só para te encontrar ! 
[..e amanhã também .. ]

.lembrei de ti *

os pingos de chuva dourada nos candeeiros da rua.
( and it feels so warm inside )

bootie call

ah como eu precisava de alguém que me fizesse querer ir e vir(-me) vezes sem conta, me cansasse tanto que a respiração me custasse e me deixasse vestir 1001 pessoas perversas de mim .
hoje à noite.

vai ficar tudo bem .

" achas que um dia tudo vai passar ? " perguntou-lhe D. com aquela voz trémula de quem pergunta mas receia a resposta que pode vir a conseguir.
L. ficou suspenso no mesmo momento, imóvel, sem razões aparentes de ter sequer a mais ínfima vontade de lhe responder. lá fora na janela molhada, a chuva teimava em cortar os passos curtos e apressados de quem ainda se atrevia em vir à rua. há dias e dias que nem se viam os gatos rondar o jardim e só a cachorra da dona M. aparecia de quando em vez para um pratinho de restos do jantar. "deve andar prenha" pensou D. quando a viu pela última vez .
" achas que um dia tudo vai passar ? " perguntou-lhe de novo, pegando-lhe na mão gelada e hirta.
" mas porque não me respondes tu ? não entendo este teu silêncio disfarçado de uma presença praticamente invisível! " 

houve uma altura no tempo, uma altura diferente, em que os silêncios intermitentes eram preenchidos o mais que possível com palavras soltas e risos desconcertantes. não havia proibições, delimitações. não existia horas, e os dias eram meras demarcações ridicularizadas no trepidar das canções. dantes, o depois era uma invenção do mundo, e só o agora fazia sentido. o futuro era algo que se tornava desfocado quando se tentava desenhar com pincéis às cores e, por isso, apenas o presente se sujeitava a receber em si qualquer paleta disponível na imaginação do momento. 
bastava ordenar que os pés andassem, e os pés levavam para qualquer sítio. aqui ou no fim do mundo. nem sequer interessava. desde que fossem. e ali se demorassem. 
a companhia era algo não negociável. nem questionável. bastava aparecer que já se sabia o destino. as frases construídas, a maioria das vezes, não eram convidadas a juntar-se ao cenário, e era nesses momentos que os olhares se cruzavam e travavam dos diálogos mais eloquentes que a noite testemunhara.
e quando nem sequer os olhares se viam, era o tacto que eles conheciam. luz apagada .a ponta dos dedos . o cheiro das vozes surdas que se tocavam em pleno pecado segredado.
e era assim que se consumiam. dia após dia. noite após noite. até que as semanas e os meses deixaram de ter um nome pelo quais se pudesse chamar. 

D. deu o gole final no café que já se adivinhava frio. gelado. o fundo da caneca, escuro como o decorrer dos dias anteriores (ou seriam meses?), podia perfeitamente acompanhar na procissão, os farrapos   perdidos no seu corpo, à procura de saída. pegou-lhe no braço e levou-o com ela. sentou-o devagarinho na ponta da cama.
" pões as meias .sabes que tens sempre frio ao adormecer ".
lentamente, deixou que seu corpo escorregasse pelos lençóis. ajeitou-lhe as mantas e beijou-o. apesar de tudo, o sabor doce que conhecia não tinha desaparecido de seus lábios.
desligou a luz e deixou-se adormecer.  "

- Quando é que os descobriram?
- Uma semana depois ...mas dizem que ele já estava morto muito antes!
- Como assim?
- Dizem que ele já devia ter morrido umas boas semanas antes de os encontrarem. 
- E ela ?
- Ela ...já tinha a alma morta há muito mais !



a ti T. (sempre! )

" porque há noites assim .de asas de chumbo ".

se há meu amor, se há. e é nestas noites que eu gostava de poder esticar o braço e apanhar do céu as palavras mais quentes e reconfortantes para tas dar numa bandeja de prata. é nestas noites que eu gostava que a lua ouvisse o meu pedido e entrasse pela tua janela para te mostrar que o caminho que tens diante de ti, e que temes não reconhecer, se encontra iluminado e não tens que ter medo de te perder.
se pudesse, de certo te diria as mais lindas frases ao ouvido e depois, juntas, escreveríamos em todos os campos, a mudança que se antevia frustrada mas que, afinal, pertence somente ao fantástico de um novo correr de dias.

há noites de asas de chumbo sim. há noites de sinistra pequenez. mas, se me deixares, levo.te a voar por sítios nunca imaginados, nem sequer inventados mas, certamente, pensados por ti. e por mim. 
se me deixares mostro.te como és grande. gigante. que como não há como te sentires pequena na maravilhosa pessoa em que te transformas sempre que largas esse sentimento frio e triste que enregela !

quero pegar na tua mão .fria .e aquecer-te .as mãos e a alma . " rasgar.te a máscara sufocante" .quero pegar em tuas lágrimas e fazer delas um rio corrente, que leva os sonhos para o mundo das possibilidades, molhar os pés e atravessar todas as pontes. relembrar os dias e noites ( e aquelas tardes desajeitadas) em que fizemos promessas de nunca temer a passagem de rios e lagos e elevar.nos na sensação de poder conquistar oceanos!

e mesmo nos segundos em que olhas para o lado e não me vês .olhas para cima e não reconheces as constelações, olhas em frente e te espera uma escuridão aparente ..fecha os olhos .fecha-os e não penses em mais nada senão no calor dos pés fora do cobertor .e podes ter a certeza, (talvez uma das únicas) de que a minha presença ausente não é mais do que a ilusão de que a distância afasta, e que a ausência não passa de o medo revestido do receio de partir .
eu ali .e tu acolá .mas estaremos sempre aqui !

figurantes

talvez porque o encaminhar dos dias nos leve apenas ao desinteresse das palavras soltas. ou porque os momentos desprendidos do tempo se tornam ilegíveis naquilo que é o diluir da culpa. o peso que carregam os factos pende sobre uma leveza estranha de conhecimento e pouca importância.
a verdade é que a necessidade de sentir no desejo o toque de uma outra existência insignificante conduz ao desaparecimento da personagem principal.
e, apesar de tudo isto, não deixa de ser irónico que os papéis se sucedam como as folhas de papel rasgadas quando os escritos não coincidem com os humores de há instantes. e deixa de haver personagem principal para surgirem no arco constantes trocas de direcção acompanhadas de um cigarro demorado.

que interessa tudo isto se, no fim, deixa de haver forma de conhecer o verdadeiro por estar imerso num universo de espelhos ?

terceiras e sétimas

o erotismo dos dedos a deslizar por aquelas cordas frias, sedentas do vibrar, relembra-me que tudo o que é, afinal simplesmente o é .e mesmo que tenha sido, já nem sequer importa.
porque na passagem do andar por aí ,acabamos sempre no mesmo lugar comum.

usei.te

teve que ser .

apenas vírgulas, L. ..

porque aquilo que é a sensação de ter perdido o mapa, não é nada comparado com os breves instantes de asas escondidas no mergulhar do tempo.
porque apesar de as palavras esmagarem contra a parede aquilo que outrora habitou um outro corpo desaparecido no fluir das linhas, nada pode vir a ganhar a mesma energia de quando é o vento o digníssimo portador dos silêncios orgulhosamente forçados.
e, no entanto, não deixa ter sido um caminho que os pés, cientes de todo o ardor, tocariam de novo (mesmo que em pontas).
os olhares escondidos num toca e foge escorregadio, não permitem que se sinta, mais uma vez, (por uma que seja!), o rubor que, perdido em ponteiros, deixou de ter o mesmo sentido.

o som daquelas frases, soltas, à procura de um poiso seguro, menos flutuante que as noites infantis passadas algures entre o norte e o sul de quem desconhece a direcção dos factos. o som dessas frases que, apesar de insensatas, não param de ecoar, distorcidas, remexidas. talvez repetidas a alguém que não saberá conhecer-lhes tão bem o sabor.
foi quando soou, pela primeira vez, a mensagem dos corpos no espaço do frio, que ficou prontamente escrita a história inacabada que se conheceu. sem direito a ponto final . apenas virgulas no intervalo de nós.

U.

e eu vi.te .em todos aqeles rostos sem face .

sentidos .

enganar os sentidos .
deambular nas incertezas verdadeiras de que tudo afinal parece ser o que não era.
e deixar escorrer pela pele torcida os momentos e movimentos partilhados, não imaginados, inexistentes na realidade perdida.
libertar do escuro os textos corridos, ressequidos, de vontades infinitas, escondidas na luz que apaga o brilho da tentativa inerte de entender.
permitir que cada tom seja apenas um instante inquitante .demente. sobrevivente.

enganar os sentidos .
e ser-me a mim .

calada .

e é a voz calada que traz destes momentos palavras estreitas que não suportam toda carga que nelas imponho.
e de um momento para  outro tudo mudou .o telefone tocava mas já nem sentia força para se levantar e ver quem era, o que qeria .nem força nem vontade .
porque a força arranja-se .procura-se naquele sitio escuro e escondido a que chamam o fundo ."lá bem no fundo".
mas a vontade ..essa não se encontra, porque não anda por aí perdida. escondida.

a vontade deixa-se algures no mundo e só se vai resgatar quando assim apetece.

e não lhe apetecia mesmo nada ter vontade.