F.

molhar os pés .

.mergulhar as mãos

achava qe sim .

eu achava que sim, mas pensava que não.
e no meio de tudo isto eram as incertezas que me levavam ao pleno direito de questionar "para que lado gira o mundo? ".
descobri que não interessa porque, qualquer que seja o sentido, a rotação esférica do momento só me levava os pensamentos deslavados de mim.. e ia encontrando aí a pureza das coisas que não existem, mas que podem possivelmente ser inventadas naquilo que é a permanente e constante invenção dos segundos de tempo .
" i want to do with you

 what spring does with cherry trees "

Pablo  Neruda

L.

é verdade .sim, é verdade.
confesso.
tenho saudades de ti.
pensei que fosse fácil simplesmente apagar da minha memória todas os risos .( e sorrisos ). pensei que bastava desejar com muita força e deixaria de cheirar a tua voz em mim. mas não (!) esta tarefa tem sido muito menos simples do que julguei .afinal não sou nada parecida com uma daquelas heroínas de banda desenhada que veste uma capa brilhante e ganha super poderes invejados por todos e possuídos por nenhum. afinal, não sou nem sequer alguém daqueles cheio de forças que é capaz de dobrar o mundo com um só pensamento. sou fraca. e, no entanto, é esta fraqueza que me abraça todas as noites e me traz o som daquele teu cheiro que é tão teu (e só teu). é esta fraqueza que me enlaça na escuridão e me leva de volta a ti. me faz sentir que os quilómetros e desejos de distância (afinal) nos aproximam .

tenho saudades de ti. de um nós que nunca existiu .
e não quero ser forte. quero manter este tremor de pernas quando se aproxima a possibilidade remota de te rever .quero manter esta taquicardia desregulada quando, finalmente, te sinto .quero perder todas as minhas forças quando o teu olhar (re)pousa novamente no meu .
e mesmo que tenha de virar as costas e fugir para que não oiças sístoles e diástoles desmarcadas e galopantes, a verdade é que todos os meus músculos tentam mover-se no sentido oposto e faço um esforço hercúleo para contrariar aquela que é, para meu corpo, a direcção natural dos passos .

e se ao menos pudesse eu dizer-te tudo isto.

L.

não me venhas sequer falar. porque eu hoje estou que nem posso .estou que nem posso comigo nem com nada .
e é isso mesmo com que eu estou. com o nada. o nada de todas estas coisas com que me deixaste depois de por mim passares.  de em mim não parares.
não me venhas sequer falar .não quero saber do teu estado de espírito .não quero saber da tua fome nem da tua sede .nem sequer quero saber de ti. 
não me venhas despejar as tuas vontades e necessidades .não me venhas despejar palavras como se o antes de ontem não tivesse tido qualquer culpa naquilo que é amanha o teu discurso para mim.
quero saber magia e fazer desaparecer os tempos percorridos na vontade de ti.
quero perder o fio à meada, e não saber onde te encontras .
não me venhas sequer falar .porque quando me falas estremeço .e por muito que tente pegar nas gotas e deitá-las fora, o rio parece querer continuar no meu corpo quando te vejo .

F.

aproximo-me da tua pele.
esforço-me o mais que a vontade insípida do tremer me permite, e falo-te ao ouvido e digo aquilo que não quero que saibas e que não queres saber.
as palavras ocas na falta de luz, transportam movimentos ocultados pela presença do som dos nossos gemidos.
toco tua aura, com meus dedos molhados, e a cor da vivência controlada transcende-se.
meu negro disfarçado ataca e nossos sentimentos (ir)reais
 enlaçam-se entre si.
corpos para cima, Iluminação renovada...

novos verbos preenchem as paredes vazias de  
 entendimentos concordantes,
a janela aberta e os sentimentos fugiram levando a  
 fantasia com eles.

sussurro
e...
restamos nós. deitados. cansados.
trocando substantivos da neutralidade dos dias.
amantes.
esquecidos.
permitimos que a invasão do quociente económico nos
 leve o calor.

os olhos cerram-se e o peso de nós eleva-se no ar.
viajamos em novas atmosferas e lá, naquele sítio, 
 encontram-se novamente nossos corpos, nossas deambulações .



C.

e no meio de todas aquelas outras coisas não sou capaz de esquecer o que o pensamento não permite mas que o corpo quer.
deixo que as barreiras que em mim criei e de mim fiz, sejam ultrapassadas na certeza de que apenas os segundos existentes entre nós podem ser reais, naquilo que é o futuro sem tempo para cada um de nós.

tu sem tempo para seres. e eu sem tempo para desistir.

e mesmo quando caminhamos aqueles passos seguros de que ambos acreditamos que o desejo se interpõe sobre qualquer outro assunto, não deixamos de saber que, na verdade, é apenas mais um mal-entendido para desculpar aquilo que nem sequer existe.

e chegamos. olhamos. não um para o outro. mas para aquele sitio lá fora e distante, em que as palavras, cheias de textos invisíveis e vazios de conteúdo, não são necessárias, e os amantes podem simplesmente virar as costas sem esperar o calor.

e depois, de colocarmos nossos corpos nesse sitio do qual esquecemos o nome, deixamo-nos ir. eu, deixo-me ir contigo. e tu, levas-me para onde eu não sei ir. e lá ficamos .e lá nos perdemos . e de lá não queremos voltar. porque é lá que as horas são minutos e os minutos escassos segundos, e todo o tempo parece simplesmente demasiado curto para tudo aquilo que sentimos e queremos provar .
e fazes-me ir. e vir. e não ter vontade de me encontrar. e perco-me algures entre aquilo que é o cheiro de te querer e a certeza de te não te ter. pelo menos amanhã. porque hoje o labirinto é apenas feito do som que respiramos .e ontem nem sequer teve importância nas margens do que não construímos.

mas o tempo não é mais do que a ilusão pintada de suor. e não sei se as horas, se o cansaço dos corpos escondidos, acaba por nos fazer voltar.
e seguras-me com medo que eu me tenha esquecido de voltar. e dizes-me que preferias que tivesse ficado, porque vou deixar de te olhar neste preciso momento.
e sinto os teus olhos pousados em mim enquanto me afasto.

(e quando nos cruzamos no final da noite pouso os meus em ti .)