C.

e no meio de todas aquelas outras coisas não sou capaz de esquecer o que o pensamento não permite mas que o corpo quer.
deixo que as barreiras que em mim criei e de mim fiz, sejam ultrapassadas na certeza de que apenas os segundos existentes entre nós podem ser reais, naquilo que é o futuro sem tempo para cada um de nós.

tu sem tempo para seres. e eu sem tempo para desistir.

e mesmo quando caminhamos aqueles passos seguros de que ambos acreditamos que o desejo se interpõe sobre qualquer outro assunto, não deixamos de saber que, na verdade, é apenas mais um mal-entendido para desculpar aquilo que nem sequer existe.

e chegamos. olhamos. não um para o outro. mas para aquele sitio lá fora e distante, em que as palavras, cheias de textos invisíveis e vazios de conteúdo, não são necessárias, e os amantes podem simplesmente virar as costas sem esperar o calor.

e depois, de colocarmos nossos corpos nesse sitio do qual esquecemos o nome, deixamo-nos ir. eu, deixo-me ir contigo. e tu, levas-me para onde eu não sei ir. e lá ficamos .e lá nos perdemos . e de lá não queremos voltar. porque é lá que as horas são minutos e os minutos escassos segundos, e todo o tempo parece simplesmente demasiado curto para tudo aquilo que sentimos e queremos provar .
e fazes-me ir. e vir. e não ter vontade de me encontrar. e perco-me algures entre aquilo que é o cheiro de te querer e a certeza de te não te ter. pelo menos amanhã. porque hoje o labirinto é apenas feito do som que respiramos .e ontem nem sequer teve importância nas margens do que não construímos.

mas o tempo não é mais do que a ilusão pintada de suor. e não sei se as horas, se o cansaço dos corpos escondidos, acaba por nos fazer voltar.
e seguras-me com medo que eu me tenha esquecido de voltar. e dizes-me que preferias que tivesse ficado, porque vou deixar de te olhar neste preciso momento.
e sinto os teus olhos pousados em mim enquanto me afasto.

(e quando nos cruzamos no final da noite pouso os meus em ti .)

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