talvez um dia mude de vida .

mudei de casa .
aqueles que o desejem perguntem para me seguir 

[ há algum tempo atrás que] já não sei quando mas estava aqui . e é sempre tão igual a todos os dias

sinto que tenho tudo isto cá dentro guardado. sinto-me a explodir de tudo aquilo que te quero dizer. de tudo aquilo que quero que oiças e compreendas. que não me interrompas. que não menosprezes e não rejeites.
mas não sei o que é tudo isto. está cá dentro e afoga-me, mas não sei o que é.
sinto-me cansada e sem vontade de acordar novamente todas as manhãs. cansada de me preocupar.
sei que tenho tudo aquilo que queria ter. o meu namorado, a minha casa, um trabalho. não gosto deste trabalho. não sei se alguma vez gostarei de algum trabalho. às vezes acho que só serei boa sempre a estudar. assim só me desiludo a mim própria.
estou sempre preocupada em fazer tudo bem, em manter tudo bem. cuidar de tudo. mal sei cuidar de mim própria.

sempre a preocupar-me se te vou deixar sozinho. o que vai acontecer ? tenho sempre o mesmo palpite e ele acontece sempre. vais beber. e o que vai acontecer com isso? vais ficar agressivo ? não vai acontecer nada ? vais habituar-te a beber pouco ? e o pouco vai ser todos os dias ?
nada te interessa. nada te parece interessar na vida. a não ser os filmes e os jogos. pouco interages e quando me mostras de ti é porque bebeste e eu tenho que te ouvir.
queria mostrar-te o meu mundo. mas nunca o vais conhecer.


cansada de ter que pensar no dinheiro, nas contas, nos teus problemas. gosto de fazer parte da tua vida e que faças parte da minha, mas quero ser a tua namorada, não a tua mãe a todos os momentos! quero poder sentir-me segura e sinto que sou eu que cuido de tudo. preciso também que sejas tu a cuidar de mim. preciso que cresças e penses nas coisas de crescido.



acho que não sabes viver sozinho. gostas de não viver sozinho mas, na verdade queres a tua vida, o teu espaço, a tua forma de viver e ver as coisas.

não me vejo a viver sem ti. nem sequer vejo razões para querer viver sem ti. mas, neste momento, também não as vejo para querer. amamo.nos. mas não estamos mais apaixonados. tive momentos vários em que acreditei que sim, mas agora já não sei sequer se terão sido reais.

arrependo-me de ter pensado que te perdia, que não me amarias mais se não cedesse à tua vontade de vir para esta casa. eu própria me convenci disso. gastei o que não queria ter gasto. comprei o que não queria ter comprado. não queria aquele tapete de madeira da casa de banho ! queria um sonho.
e agora já não consigo ter a certeza se ele se vai realizar.

sinto que sou para ti uma chata, rabujenta, sempre a refilar, sempre de trombras. sou a desmancha-prazeres desta casa, nunca satisfeita com nada. e, por um lado, dou-te razão. estou sempre preocupada. com mil coisas. Não consigo relaxar, não consigo divertir-me a 100%.

tenho medo que isso faça com que vás procurar novamente aquilo que não te dou. diversão, boa disposição, descontracção. alguém que te faça sentir bem. porque sinto que não o faço. por outro lado tenho vontade de pensar que sou capaz de aceitar essa condição de que ninguém muda totalmente e que serás sempre aquele que precisa da atenção das mulheres à tua volta. acho que, se assim for, nada poderei fazer para as coisas serem diferentes. e nunca saberei. e prefiro não saber.
gostava que tivesses atenção àquilo que sinto. que não me dissesses sempre que já viveste ou estás a viver pior. já fui criança e sonhei para mim. e sinto-me muito tola por isso. os sonhos só são reais nos contos de fadas.

gostava de construir uma vida e uma família contigo. mas sinto que não estás preparado. nem sei se um dia estarás. dar a tua vida para a partilhar com alguém requer sacrificio. pensar em muitas coisas. arrumar. limpar. organizar. orçamentar. preocupar-se. e, ao mesmo tempo, ter tempo e vontade de dar tempo de si ao outro. e não se esconder.

criar uma vida requer ainda mais sacrifício. o sacrifício de uma vida. para o resto da vida.
tenho medo de pensar que "hoje" ainda não estamos preparados, mas que "amanhã" estaremos, e que isso nunca aconteça, mas que me deixa convencer que sim. não sei se pela ilusão, se pelo cansaço. e arrepender-me.
quero continuar contigo. quero continuar contigo aqui. e que continues aqui. mas tudo isto cá dentro sufoca-me e nem sequer consigo saber o que tudo isto é.

porque me dás a mão e me apetece fugir

porque é que me hei de importar ? no fim disto tudo que vai acabar por morrer, sou eu ..

and i would still forgive you

everything is a version of something else.

o silêncio que te incomoda

às vezes, simplesmente, não me apetece ter que lidar contigo.

enquanto continuo a pensar no fim

temos o mar como fundo e a nossa esplanada preferida como palco de conversa. digo.te que me senti enganada, no início não era assim, foi muito mau e tem vindo a melhorar .. mas a bola pesada de tudo o que passei por ti e contigo,( mesmo que o presente seja diferente), está a ser cada vez mais difícil de carregar.
dizes-me que me entendes. que sabes o que és. que sabes o que me fizeste. dizes que achas que não tenha que ser o fim e que se já entrámos na recta (muito afunilada) da melhoria, não faz mais sentido deixar pesar o passado. 
dizes-me que me dás razão. que queres e serás diferente. que já o estás a ser. que são passos pequenos e demorados mas que juntos chegaremos ao destino certo. e, aliás, mais importante é o caminho não o destino e que, assim, não estamos a aproveitar caminho nenhum.
e eu estou a deixar-nos presa no passado, com medo do futuro. estou a perder o presente contigo. e dou-te razão.
porque o meu medo é deixar que o passado seja esquecido, aproveitar o presente como fazia em tempos  e depois o futuro ser o maior trambolhão da história dos amores perdidos.
quero acreditar com toda a tua mesma certeza de que somos os dois feitos de coisas difíceis e impossíveis e que já passámos tanto que não há nada que não consigamos passar mais. quero acreditar nesses teus olhos verdes que me dizem que há uma possibilidade em nós e que é nela que vamos querer continuar a viver.
quero correr na praia, na areia, no jardim com os braços abertos e o coração cheio no peito, sem medos, sem preocupações, sem receios de que, um dia, tudo isto esteja destinado a acabar.

quatro de junho de dois mil e doze

cheguei, mais uma vez, ao quarto de hotel com a sensação de não ter sensação nenhuma. a viagem situa-se algures entre as doze horas de oportunidade para pôr em conversa em dia, acertar as horas de sono ou, simplesmente, não pensar em nada. normalmente todo o sentimentos de expectativa, nervosismo e antecipação que antecedem o dia da viagem desaparecem quando entro no carro alugado e volto a aperceber-me de que não tenho mão em nada-
nem nisto, nem na minha vida.
vou passando por momentos vários, mais ou menos como as estações do ano, só que muito rápido e sem sequer passar muito tempo pela primavera-verão. sempre me considerei uma alma de cores quentes mas, neste momento, vivo numa casa de campo outono-inverno onde o vento que se vai arrastando ao longo dos dias se junta ao gelo em que se tem vindo a transformar o meu coração.
tenho muito pouca vontade de visitas ao meu espaço e o meu espaço é cada vez menor para receber o que quer que seja.
é cada vez menor para mim própria.

Emotion transcends language.

Leroy: Don't you love him?
Samantha: I think that's the problem. We love each other too much.

Samantha: I have to ask you a question. It's a good one so think about it. If two people love each other, but they just can't seem to get it together, when do you get to that point of enough is enough?
Jerry: Never.





Gostava especialmente de ser daquelas pessoas que não se preocupa. Que deixa tudo passar à sua volta e continua convictamente a acreditar que o ruído de fundo não é do mundo que está a ruir à sua volta. A cair aos pequenos bocados, ferindo por dentro.

Gostava especialmente de fazer parte daquelas pessoas que mantêm relacionamentos lindos, simples, que aceitam tudo o que há e não há para aceitar. Com um sorriso na cara e um "espero-te logo à noite no teu lugar vazio da cama".

Mas não sou mesmo. Não consigo aceitar. Sou assim mesmo, sou o que sou. Desta mesma forma. E não é um ultimato. É mais um esforço que faço por ti.

muitas vezes nem sei se nos amamos ou simplesmente amamos a ideia de nos amarmos um ao outro

tem dias em que se torna complicado. eu transformo-me na pior pessoa do mundo e só me apetece farejar tudo e mais alguma coisa à procura daquilo que sei, precisamente, que não quero encontrar. dia a dia surpreendes-me. quase nunca pela positiva.
ou então sou eu demasiado exigente e perfeccionista para não ver essa tuas lindas acções e gestos.
dizias no outro dia "ir trabalhar todos os dias para o último sitio da terra para onde eu queria ir deveria ser a maior prova de amor. faço-o por nós e pela nossa vida". e nesse mesmo dia dizes-me com todo o ar natural do mundo "sim, gosto muito da P. somos amigos e temos um química muito forte". por muito que eu não queira, a última frase anula catastroficamente a primeira. é qualquer coisa tipo holocausto cá dentro, mas sem os julgamentos de guerra. porque a única prisioneira aqui sou eu.
sim é verdade, reduziste os litros de etanol por semana, passaste a não partir coisas, tomas sempre certinho os comprimidos, já não atiras cenas pela janela e aprendeste a sentar à beira da cama a conversar como um menino crescido (embora a conversa não possa durar mais de cinco, dez minutos e desde que não caia demasiado para o teu lado).
e depois descubro sempre uma garrafa que afinal estava cheia era de água ("oh isso foi há tanto tempo, eu já não faria isso nunca mais ..." hum hum). e depois é a mensagem a cair no telemovel, a chamada rejeitada, e as horas que passas na casa de banho trancado a fazer sabe-se lá o quê !

contigo é sempre assim. bombas nucleares constantemente a cair no meu jardim.
gritas comigo que fazes imenso nesta casa, quando eu te peço por um pouco de ajuda "porra!". "Já fiz uma máquina de louça e limpei os peixes ! " respondes com ar de ofensa como se eu te tivesse dito que o teu nariz torto consegue ser pior que as orelhas de dumbo.
boa . e eu a seguir a ti tive de ir limpar a cozinha, bancada, chão, louça que não coube na máquina, paredes e fogão; ao mesmo que tempo que encho a wc de spray, arrumo o quarto, faço e estendo duas máquinas de roupa, lavo o frigorífico, tiro o spray da wc, lavo a banheira, sanita, bidé e ainda ponho o espelho a brilhar; e consigo pensar nas contas, no jantar, e na P., na A., na C. e nas gajas todas com quem tens uma "química especial de amigo".
quero lá saber se elas entendem as tuas piadas, sem têm 50 ou 100 quilos e se me dizes que é a mim que queres. quero lá sabes se são a tua companhia no café no trabalho que não gostas. também não gosto do meu, f'dasse. e não ando a gastar o meu charme pelos caminhos do mundo, para depois chegar a casa e jogar PS.
foste jantar a casa do B. no outro dia para te despedires da V. aquela que me disseste ter sido "o amor da tua vida" (sim, mais uma merda que engoli e enfiei no saco). eu não disse nada e vieste encantado com os putos e com o B. ter dito que qualidade de vida era ir para casa depois de um dia de trabalho e poder passar tempo com a mulher. por momentos até acreditei. (como quase sempre!)
mas a maior do tempo, tu escondeste nos jogos de carros a fugir da polícia que é quando dá mais pontos e eu venho para o escritório fingir que nada é. até gosto de estar sozinha,

e agora que depois de ir ao dôtor psiquiatra e andar a indutores do sono, ansiolíticos e anti-depressivos, nada melhora, só me parece pior.

porque tenho medo de melhorar. de abrir os olhos voltar a ganhar aquela energia que sempre tive dentro de mim e dizer-te que chega. não quero saber de comprar carros, casas T2, nem de putos a correr pelo corredor.
não quero saber de ti. 
e tenho medo disso.

não apaguem o amor

Para ti o fazer amor só existia nos filmes. Disseste-me algumas vezes que não sabias o que isso era, nem sequer te fazia sentido. Era uma invenção lamechas dos filmes e para ti só havia o sexo. Mesmo que fosse com o teu amor (o que deixa a dúvida no ar se alguma vez alguém terá sido o teu amor...)
O único verdadeiro objectivo de toda a situação era vires-te. E ouvir isso pode magoar muito qualquer namorada ou amante. De qualquer das maneiras, como em todas as outras situações, calei e esqueci o que ouvi.
Não sei bem o que te incomodaria mais? Os preliminares? A troca de olhares envolventes? Medo de ser descoberto? De te deixar levar, de te deixar perder? Tu nunca te deste todo ...
Começava sempre com beijos longos e molhados. Nunca os davas em situações normais por isso quando vinham eu já sabia bem o que queriam dizer. E tive de aprender a aceitá-los assim mesmo: como um prenúncio do corpo. Durava apenas o tempo que de demorar. Nem a mais, nem a menos. E no fim, deixavas-te render, (talvez pelo cansaço?) e o teu braço levantava-se à espera que adormecesse no teu peito.
Quando, no início, isto acontecia muitas vezes, e muitas vezes por dia, eu achava por bem jogar pelo seguro e aceitar todo o movimento tal e qual como mo apresentavas. Mal ou bem o que, na verdade, eu ainda julgava era que a submissão não morava do meu lado, portanto era até bom que não envolvesse sentimento demais. Se assim não fora, tornaria tudo muito mais difícil quando eu quisesse tomar a minha posição de aproveitadora que controla a situação ao pleno.
Mas, este meu papel era apenas uma ilusão minha, criada por ti, não sei. Comecei a esperar mais de um sentimento que em ti era simplesmente vazio. 
Primeiro era a falta de emprego, deixava-te inseguro. E eu, como cavalheiro que sempre fui, aceitei. Depois era a falta de dinheiro e eu ter que pagar tudo. Também compreendi, não há homem que aguente tal posição! Depois era o cansaço do emprego. O stress do emprego. Disseste-me um dia que procuravas a tua mãe em cada relação íntima que tinhas tido e que agora já não sentias a necessidade de procurar mais na mulheres aquilo que sabias ter encontrado em mim, o amor. Disseste-me que a tua procura incessante e desprovida de critério e bom senso, não era mais do que uma busca constante por aquilo que não poderias encontrar. E que comigo nada disso fazia sentido. E eu, como empática que sempre fui, compreendi. Não me querias associar às gajas que andavas a comer antes de mim. Tudo bem.
Mas o tempo foi passando e, às vezes, morria de inveja dessas mulheres que, não tendo tido direito ao teu coração, ao menos do teu corpo tinham desfrutado. E eu, que do teu corpo já mal conhecia, nem a certeza tinha mais de ter tido o teu coração sequer.
Aos poucos foste aparecendo de vez em quando. Muitas vezes nem te davas ao trabalho de me virar. E eu que me viesse se quisesse. E aos poucos quem foi desaparecendo fui eu. 
O fantasma de tudo, de todas as desculpas, todas as razões. O não entender porquê? Quem perde assim o interesse será culpado de todas as acusações presentes? Ou terá, entretanto, uma ocupação diferente? Tudo isto na minha cabeça fazia não me querer aproximar. Mas bastava vires ao longe para que todo o meu corpo, sem que eu nele mandasse, se abrisse todo para ti. Talvez fosse a culpa do amor que eu por ti tinha.
Às vezes calha a vez de ser o momento em que agarras e me beijas longamente. E eu sei bem responder a isso. Nunca falhas na técnica, sempre foste um bom amante. Mas falta-te a entrega de como se de um amor se tratasse. E eu não penso mais nisso. Aproveito o que posso ter, fecho os olhos e imagino-nos como nos filmes, filmados do teto, com música de fundo. Dois amantes apaixonados a partilhar o que de melhor têm em si um pelo outro. O amor. Imagino-nos a fazer amor.

foi sempre assim ..(eu o rato)

.. nunca foi fácil isto de nós os dois. primeiro era eu que pensava que não queria receber-te. o meu coração parecia estar demasiado magoado da passagem anterior. convenci-me a mim própria de que estava a fazer-me difícil para ti quando, na verdade, estava desejosa que alguém abrisse os braços para me receber. tu já tinhas percebido isso (sempre foste estupidamente inteligente para perceber as pessoas) e foste jogando o jogo. mais ou menos como o rato e gato. sempre soubeste bem como conduzir, como convencer e manipular. comigo, antes do tudo, sempre usaste as palavras certas no momento certo. e eu deixei-me ir.
começou por ser divertido. eu em Coimbra, tu em Lisboa, eu não levava as coisas assim tão a sério, enganando-me e pensado que tinha encontrado a coragem para, por uma vez, ser comandante da relação. confiava tanto por não ter medo de perder, nem coragem de enfrentar o futuro. e tu mostravas ciúmes irascíveis que eu acreditava serem de um amor verdadeiro que tinha ali nascido por mim.  gostava tanto disso.
era quase perfeito e eu ignorava os sinais, ignorava o que me desagradava, ignorava a pessoa que sabia que eras .. acho que, no fundo, não queria saber disso para nada. costumavas abrir a mão esquerda e esticar o dedo indicador direito. dizias que há sempre aquele que apanha e o que se deixa apanhar. fechavas com o força o dedo na mão e depois com ele sempre esticado dizias "eu sou este. o apanhado por ti". e sentia-me como uma mão poderosa. mas era um rato.
faltou o emprego, faltou o dinheiro e eu não me importei. nem pensei. eu sempre tive tudo e nunca neguei nada a ninguém. muito menos o meu coração.
e eram as noites e os dias que se misturavam. as horas que se trocavam. eu ia para aulas e tu dormias, eu estudava e tu bebias. e vinham as conversas acesas, as discussões. eu sentia-me sempre culpada no final de cada uma. era o rato que, manipulado, se aninhava no gato.
era o mesmo tecto para nós os dois. e mesma cama. os jantares, as receitas inventadas, os passeios pelas ruas de Coimbra todas as noites. uma rotina imposta pela falta de emprego, a falta de dinheiro e por nunca me faltar nada.
não consegui imaginar outra forma diferente senão voltar para Lisboa contigo e precipitarmo-nos para uma casa. os dois. eu queria-a pequenina, mobilada, uma coisa singela ao jeito dos contos de fadas.  gastar pouco. arriscar pouco dentro do risco maior que era fechar os olhos aquilo que sabia que iria acontecer. tu querias tudo novo, tudo bonito, a cheirar bem, no centro e muito caro. fizeste as birras de sempre para eu concordar. e eu, concordei. mesmo com aquele aperto no estômago, concordei. sabia que não era o certo, tu já andavas distante, pouco carinhoso, na cama não existias há meses e a bebida nunca te deixou ser meu.
entrámos na casa nova. emprego novo. para mim e para ti. 
noites a beber, discussões atrás de discussões. e a culpa que eu sempre senti de tudo. culpa de não entender, culpa de exigir de mais, de não te saber amar, de não saber viver. 
fui engolindo o arrastar de meses que ia ignorando, com gritos, insultos camuflados, as bebedeiras, horas sem saber de ti, as mentiras, os telefonemas sem resposta e as mensagens esquecidas. fui desaparecendo dentro de mim. 
murros na parede, o sofá partido. coisas atiradas pela janela, os ultimatos, as ameaças. e eu ali, entre lágrimas, arranhadelas a mim própria, o bater com a cabeça na chão e o medo de perder tudo.
sempre o rato com medo do que o gato possa fazer, mas com aquela vontade de lhe sentir os bigodes.
roupas. coisas para a casa. jantares. fora e dentro. receitas experimentadas, noitadas ... foi-se o dinheiro e com ele, já há muito, tinha desaparecido a minha inocência. 
mas noite após noite continuava a acreditar sempre que era desta, era desta vez que as coisas mudavam. tu ias querer ser diferente comigo e, principalmente, contigo. ias querer ser crescido, viver uma vida a sério e reconhecer a mulher que tinhas do teu lado
mudámos de casa, mudámos de sítio. as coisas mudaram um pouco. mas as mentiras vieram connosco.   e com elas a sensação continuamente pesada de que sempre me tomaste por demasiado tua, por demasiado cega. e era. Tua. e cega.
rata cega com a perfeita noção de que era propositado o torpor em que me metia. 
Continuava a apetecer-me desaparecer, não existir, deixar de sentir. E tu chamavas-me preguiçosa. E eu na preguiça tratava de tudo, das contas, da casa, do dinheiro que já pouco tínhamos, das limpezas, das arrumações, de ti. E nunca soubeste ver isso.
nunca houve um período fácil e simples. sem preocupações. só felicidade e amor. nunca houve. e sei bem que nunca haverá. porque o mundo não muda, e nós fazemos parte do mundo.
aquilo que és, está dentro de ti e provavelmente eu nunca saberei viver com isso. o que se passa é que, também não sei já como viver sem tudo isto e quando penso em deixar-te o peito vira-se ao contrário cá dentro e parece que o quero vomitar.
não sei, e acho que nunca saberei, entender qual a razão para estares tão presente às vezes e tão ausente na maioria das outras. mas a verdade é que nos poucos momentos em que te sinto comigo, sou a pessoa mais feliz de sempre. e tu fazes sacrifícios. eu sei. mas também sei que nunca serão suficientes.
Porque tu e eu nunca seremos suficientes um para o outro.

D. raises her hand

" Ain't no time two people staring at each other, or standing still, loving both with their eyes are equal. Truth is, someone is chasing someone. That's the way we's built."

na corda bamba

há dias em que não aguento a distância, há outros em que simplesmente não aguento a proximidade. o teu cheiro, a tua voz, as tuas palavras e forma de falar. o teu jeito a caminhar no corredor e de chamar por mim, pelo teu amor. há dias que se não tenho tudo isto e muito mais, não sei o que fazer por dentro. tem outros que, se tenho apenas um pouco de alguma delas, só me apetece fazer desaparecer.
só não sei a ti ou a mim.

rascunhos

os sonhos parados não deixam nunca de ser sonhados
tem dias em que me canso de mim própria .. 

depois de tudo o que aqui se passou

será que se pode perder para sempre aquilo que, na verdade, nunca foi nosso ?

mas não consegui trancar a porta à saída.

foi quando bati a porta pela segunda vez durante a tarde, que deixei de ter certezas. Já tinha ido lá abaixo, estava calor e a senhora que limpa as escadas, como sempre antipática; levantei dinheiro, comprei-te os tubos e o tabaco. A casa já estava limpa, a roupa dobrada e a casa de banho a cheirar àquele óleo que uns primos meus nos ofereceram pelo natal.
há quatro dias atrás, o plano era fugir para descobrir a vontade de voltar. mas tiveste que precipitar tudo antes. tive de sair antes do dia por mim marcado, a meio da noite, tive de chorar e teve de doer. Demais. E tive de regressar no meio da chuva do dia seguinte antes de poder sair.
por isso, foi quando fechei a porta pela segunda vez, no dia por mim marcado, que deixei de ter certezas. aquelas certezas de que tudo estava tão incerto que necessitava, claramente, de arranjo. as incertezas passaram a ser certezas de que, afinal, tudo parecia estar certo.
Qual o sentido da mochila às costas, então? Não sei.
Deixei-te um bilhete no espelho do teu lado da cama a dizer que sentirei saudades e apanhei o comboio das dezoito e vinte e quatro.

Obrigada Backinthelight !

 
 
Recebi este selo da Backinthelight , blogger que eu sigo à distância de nunca ter feito nenhum comentário mas ter partilhado muitas vezes. Se calhar devia começar a comentar mais aquilo que me toca ou que, de alguma forma, me faz sentido. Obrigada|
 
E aqui ficam as regras:
1. Colocar o link de quem o ofereceu;
2. Colocar o selo no blog;
3. Escolher 5 blogs com menos de 200 seguidores para oferecer o selo;
4. Deixar um comentário a avisar que estão a oferecer o selo.

E o meu selo vai para:
Memórias de uma Queixa
Miscelânea da Vida
Eterna Viagem
Líbido Desconcertante
A deambular pela minha realidade onírica

(desesperadamente) a precisar ...

...que alguém me obrigue a atender as (poucas) chamadas e a responder às (escassas) sms's.
... me arrombe a porta de casa, me arranque da cama, me vista a minha melhor roupa e me empreste os seus melhores sapatos. me sente na borda da banheira e me pinte os olhos cheios de purpurina e venha comigo roubar das amostras da loja os melhores perfumes e dizer ao senhor do táxi "hoje o destino é não parar, sff."

..daqueles dias que eram noites. que não eram combinadas e em que o mundo todo acontecia ainda antes do amanhecer.

...que sintam a minha falta. me forcem a não dizer simlesmente "não obrigada, hoje fico em casa". que me digam que TENS QUE VIR ou o Universo vai parar de girar!

depois das noites e dos dias

"mas, estás apaixonada?"
"eu Sou apaixonada. E, como em tudo aquilo que se É, às vezes essa parte de mim não existe, noutras vezes, simplesmente existe de mais."

2 conjuntos de papel

exigi de ti aquilo que não me podias dar.
deste-me aquilo que pensaste ser o mínimo exigível.
acabamos por, no meio das exigências, entender que isto não se faz por conquistas.

depois de um grande e farto jantar.

"- tens um comprimido para o estômago?"
"- porquê, estás mal dispostas?"
"- não, é para ti." e meteu-lhe a mão dentro das calças. Nem teve que se mexer já que ela, sedenta, ou de sexo ou de atenção, fez tudo pelos dois. 8 minutos e um cigarro no sofá da sala. Ela nunca deixou que fumassem no quarto "o cheiro entranha-se por todo o lado". E ele obedecia, a não ser quando tinha a certeza que ela já ia longe e não podia ser apanhado.
Ela olhava a janela. Ele, o jogo dos tiros.
"- que romântico não é?". A ironia era mais do que óbvia nas suas palavras dirigidas ao ar."-sabes que não o sou". mas era, na maioria das vezes, era mais do que pensava. "-além disso, só estou a jogar ..se estivesse a olhar para a estrelas já te parecia romântico não era?", "-sim". "-parvoíce. íamos os dois estar a fazer exactamente a mesma coisa, olhar para as estrelas, para um jogo ou qualquer outra coisa que nos aptecesse. não deixa de ser um sítio para olhar, eu não posso olhar por ti e tu por mim. são sempre dois olhares diferentes."
Ficou sem resposta. Ou sem palavras ou sem vontade de responder. Levantou-se e foi dormir.
" eu não escrevo para ser lida, no entanto, gosto que me leiam quando escrevo. entendes ? " dizia eu ao D. à hora do café da manhã. "um bocado como os gatos." respondeu-me ao mesmo tempo que olhava um pela janela. "sim, um bocado".

quando por aí andava perdida e quando me perco andando

Eras ainda não existido na minha vida, já eu te imaginava naqueles que comigo se cruzavam. Isto porque podemos não ter o desenho mas existe sempre o plano esboçado, em linhas de preto. ou Azul. E quando não há como fazer acontecer a vontade, arranjamos sempre maneira de adaptar o projecto, mesmo com a antevisão de que poderá, simplesmente, ser o toque do tempo a correr.
O temporário não deixa de ser apetecível, nem que seja para provarmos a nós próprios que as ideias podem vir a ter algum fundamento.
Continuo sem saber, de cada vez que me envolvo em cada intenção, se será a hora do projecto ou um momento de provar. Nem sei se me interessa saber. Nem vejo, na verdade, vantagem em sabê-lo.

Uma obra será tanto melhor quanto menor o conhecimento da sua perenidade ?

enquanto não chegavas a casa e preparava tudo para nós

"And what's on the other side ?
 Rainbows are visions
 And only ilusions
 Rainbows have nothing to hide "

Baby, I love your way !

Mesmo com aquele vento gelado na cara que enregelva as mão, estava difícil manter os olhos abertos. Não nos deitámos assim tão tarde, mas eu estava cansada com algumas coisas da vida e tu ansioso com outras.
Razões entre nós nunca faltaram para noites assim.
Deixei-me dormir, como todas as vezes, no teu peito. É sempre ali que mora o meu momento especial do dia. O meu lugar sagrado onde medito na vida, faço planos de futuro, planeio o dia seguinte, decido o jantar e a lista de compras e imagino a inifinitude do universo (e sei que também pensas no mesmo, com o braço à minha volta. No universo, digo).
Estavas agitado e eu sinto-o sempre. Acordada ou nos sonhos.
Por isso, de manhã, estava mesmo cheia de sono e, ainda por cima, a água quente continua a não funcionar o que me deixou muito mal-humorada.
Estava, então na passadeira, quando começou a passar no iPod aquela música do Bob que tantas ouvia quando estava em Coimbra [Carcavelos, Cascais, Lisboa ..] para me animar. Em loop. Para lembrar de uma história linda e de livro que ainda podíamos vir a viver. Connosco, contigo, sempre funcionou assim: "ainda vai chegar o momento .." .Um misto de espera e esperança.
De qualquer das maneiras, há dias vínhamos no táxi do Bairro Alto para casa e estava a dar a música na rádio. Agarraste a minha mão, apesar da tua bebedeira não te deixar saber porque o fazias, muito menos recordá-lo no dia seguinte. Mas eu SEI que foi um sinal. De que vamos viver a nossa história.
Então, hoje de manhã, quando o sentia o frio gelado, passou a música. E sorri, sozinha na passadeira, com todos aqueles encasacados caminho de um trabalho ou a fugir de uma vida. E enchi-me de vontade de voltar para trás. Acordar-te e dizer: "Olha a música! Aquela que não sabes mas que representa a história linda que, afinal, já estamos a viver!".
porque é que tornas tudo díficil ? eu so queria amar-te e dizer-te que te quero do meu lado. aquecer os meus pés nos teus e rir às gargalhadas com as nossas piadas parvas. mas tornas tudo isto tão demasiado dificil !

after the rain, the sun

" - are you happy?
  - I don't know. after the storm do you feel happy or is it just relief? "

queria que fosse suficiente

tenho tido tudo aqui atravessado. não consigo chegar a ti. sempre gostei de palavras e elas sempre souberam moldar-se áquilo que era a minha realidade mas, todas as noites, quando decido que é o momento certo para te falar, sinto os teus pés quentes a aquecerem os meus e a coragem foge por debaixo da porta do quarto fechada. de manhã quando vou à procura dela na sala já não a encontro. e volta tudo ao mesmo.
sinto tudo isto cá dentro e não queria sentir. queria sentir, novamente, simplesmente a vontade de acordar todas as manhãs ao teu lado. sem pensar em mais nada. queria sentir-me novamente tonta. verdadeira. preferia não saber onde moram os medos e acima de tudo queria ser para ti aquilo que sei que pensas que és para mim.

this is why it gets so complicated !

" for women, love isn't a feeling. it is philosophy "