não apaguem o amor

Para ti o fazer amor só existia nos filmes. Disseste-me algumas vezes que não sabias o que isso era, nem sequer te fazia sentido. Era uma invenção lamechas dos filmes e para ti só havia o sexo. Mesmo que fosse com o teu amor (o que deixa a dúvida no ar se alguma vez alguém terá sido o teu amor...)
O único verdadeiro objectivo de toda a situação era vires-te. E ouvir isso pode magoar muito qualquer namorada ou amante. De qualquer das maneiras, como em todas as outras situações, calei e esqueci o que ouvi.
Não sei bem o que te incomodaria mais? Os preliminares? A troca de olhares envolventes? Medo de ser descoberto? De te deixar levar, de te deixar perder? Tu nunca te deste todo ...
Começava sempre com beijos longos e molhados. Nunca os davas em situações normais por isso quando vinham eu já sabia bem o que queriam dizer. E tive de aprender a aceitá-los assim mesmo: como um prenúncio do corpo. Durava apenas o tempo que de demorar. Nem a mais, nem a menos. E no fim, deixavas-te render, (talvez pelo cansaço?) e o teu braço levantava-se à espera que adormecesse no teu peito.
Quando, no início, isto acontecia muitas vezes, e muitas vezes por dia, eu achava por bem jogar pelo seguro e aceitar todo o movimento tal e qual como mo apresentavas. Mal ou bem o que, na verdade, eu ainda julgava era que a submissão não morava do meu lado, portanto era até bom que não envolvesse sentimento demais. Se assim não fora, tornaria tudo muito mais difícil quando eu quisesse tomar a minha posição de aproveitadora que controla a situação ao pleno.
Mas, este meu papel era apenas uma ilusão minha, criada por ti, não sei. Comecei a esperar mais de um sentimento que em ti era simplesmente vazio. 
Primeiro era a falta de emprego, deixava-te inseguro. E eu, como cavalheiro que sempre fui, aceitei. Depois era a falta de dinheiro e eu ter que pagar tudo. Também compreendi, não há homem que aguente tal posição! Depois era o cansaço do emprego. O stress do emprego. Disseste-me um dia que procuravas a tua mãe em cada relação íntima que tinhas tido e que agora já não sentias a necessidade de procurar mais na mulheres aquilo que sabias ter encontrado em mim, o amor. Disseste-me que a tua procura incessante e desprovida de critério e bom senso, não era mais do que uma busca constante por aquilo que não poderias encontrar. E que comigo nada disso fazia sentido. E eu, como empática que sempre fui, compreendi. Não me querias associar às gajas que andavas a comer antes de mim. Tudo bem.
Mas o tempo foi passando e, às vezes, morria de inveja dessas mulheres que, não tendo tido direito ao teu coração, ao menos do teu corpo tinham desfrutado. E eu, que do teu corpo já mal conhecia, nem a certeza tinha mais de ter tido o teu coração sequer.
Aos poucos foste aparecendo de vez em quando. Muitas vezes nem te davas ao trabalho de me virar. E eu que me viesse se quisesse. E aos poucos quem foi desaparecendo fui eu. 
O fantasma de tudo, de todas as desculpas, todas as razões. O não entender porquê? Quem perde assim o interesse será culpado de todas as acusações presentes? Ou terá, entretanto, uma ocupação diferente? Tudo isto na minha cabeça fazia não me querer aproximar. Mas bastava vires ao longe para que todo o meu corpo, sem que eu nele mandasse, se abrisse todo para ti. Talvez fosse a culpa do amor que eu por ti tinha.
Às vezes calha a vez de ser o momento em que agarras e me beijas longamente. E eu sei bem responder a isso. Nunca falhas na técnica, sempre foste um bom amante. Mas falta-te a entrega de como se de um amor se tratasse. E eu não penso mais nisso. Aproveito o que posso ter, fecho os olhos e imagino-nos como nos filmes, filmados do teto, com música de fundo. Dois amantes apaixonados a partilhar o que de melhor têm em si um pelo outro. O amor. Imagino-nos a fazer amor.

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