depois de um grande e farto jantar.

"- tens um comprimido para o estômago?"
"- porquê, estás mal dispostas?"
"- não, é para ti." e meteu-lhe a mão dentro das calças. Nem teve que se mexer já que ela, sedenta, ou de sexo ou de atenção, fez tudo pelos dois. 8 minutos e um cigarro no sofá da sala. Ela nunca deixou que fumassem no quarto "o cheiro entranha-se por todo o lado". E ele obedecia, a não ser quando tinha a certeza que ela já ia longe e não podia ser apanhado.
Ela olhava a janela. Ele, o jogo dos tiros.
"- que romântico não é?". A ironia era mais do que óbvia nas suas palavras dirigidas ao ar."-sabes que não o sou". mas era, na maioria das vezes, era mais do que pensava. "-além disso, só estou a jogar ..se estivesse a olhar para a estrelas já te parecia romântico não era?", "-sim". "-parvoíce. íamos os dois estar a fazer exactamente a mesma coisa, olhar para as estrelas, para um jogo ou qualquer outra coisa que nos aptecesse. não deixa de ser um sítio para olhar, eu não posso olhar por ti e tu por mim. são sempre dois olhares diferentes."
Ficou sem resposta. Ou sem palavras ou sem vontade de responder. Levantou-se e foi dormir.
" eu não escrevo para ser lida, no entanto, gosto que me leiam quando escrevo. entendes ? " dizia eu ao D. à hora do café da manhã. "um bocado como os gatos." respondeu-me ao mesmo tempo que olhava um pela janela. "sim, um bocado".

quando por aí andava perdida e quando me perco andando

Eras ainda não existido na minha vida, já eu te imaginava naqueles que comigo se cruzavam. Isto porque podemos não ter o desenho mas existe sempre o plano esboçado, em linhas de preto. ou Azul. E quando não há como fazer acontecer a vontade, arranjamos sempre maneira de adaptar o projecto, mesmo com a antevisão de que poderá, simplesmente, ser o toque do tempo a correr.
O temporário não deixa de ser apetecível, nem que seja para provarmos a nós próprios que as ideias podem vir a ter algum fundamento.
Continuo sem saber, de cada vez que me envolvo em cada intenção, se será a hora do projecto ou um momento de provar. Nem sei se me interessa saber. Nem vejo, na verdade, vantagem em sabê-lo.

Uma obra será tanto melhor quanto menor o conhecimento da sua perenidade ?

enquanto não chegavas a casa e preparava tudo para nós

"And what's on the other side ?
 Rainbows are visions
 And only ilusions
 Rainbows have nothing to hide "

Baby, I love your way !

Mesmo com aquele vento gelado na cara que enregelva as mão, estava difícil manter os olhos abertos. Não nos deitámos assim tão tarde, mas eu estava cansada com algumas coisas da vida e tu ansioso com outras.
Razões entre nós nunca faltaram para noites assim.
Deixei-me dormir, como todas as vezes, no teu peito. É sempre ali que mora o meu momento especial do dia. O meu lugar sagrado onde medito na vida, faço planos de futuro, planeio o dia seguinte, decido o jantar e a lista de compras e imagino a inifinitude do universo (e sei que também pensas no mesmo, com o braço à minha volta. No universo, digo).
Estavas agitado e eu sinto-o sempre. Acordada ou nos sonhos.
Por isso, de manhã, estava mesmo cheia de sono e, ainda por cima, a água quente continua a não funcionar o que me deixou muito mal-humorada.
Estava, então na passadeira, quando começou a passar no iPod aquela música do Bob que tantas ouvia quando estava em Coimbra [Carcavelos, Cascais, Lisboa ..] para me animar. Em loop. Para lembrar de uma história linda e de livro que ainda podíamos vir a viver. Connosco, contigo, sempre funcionou assim: "ainda vai chegar o momento .." .Um misto de espera e esperança.
De qualquer das maneiras, há dias vínhamos no táxi do Bairro Alto para casa e estava a dar a música na rádio. Agarraste a minha mão, apesar da tua bebedeira não te deixar saber porque o fazias, muito menos recordá-lo no dia seguinte. Mas eu SEI que foi um sinal. De que vamos viver a nossa história.
Então, hoje de manhã, quando o sentia o frio gelado, passou a música. E sorri, sozinha na passadeira, com todos aqueles encasacados caminho de um trabalho ou a fugir de uma vida. E enchi-me de vontade de voltar para trás. Acordar-te e dizer: "Olha a música! Aquela que não sabes mas que representa a história linda que, afinal, já estamos a viver!".
porque é que tornas tudo díficil ? eu so queria amar-te e dizer-te que te quero do meu lado. aquecer os meus pés nos teus e rir às gargalhadas com as nossas piadas parvas. mas tornas tudo isto tão demasiado dificil !

after the rain, the sun

" - are you happy?
  - I don't know. after the storm do you feel happy or is it just relief? "

queria que fosse suficiente

tenho tido tudo aqui atravessado. não consigo chegar a ti. sempre gostei de palavras e elas sempre souberam moldar-se áquilo que era a minha realidade mas, todas as noites, quando decido que é o momento certo para te falar, sinto os teus pés quentes a aquecerem os meus e a coragem foge por debaixo da porta do quarto fechada. de manhã quando vou à procura dela na sala já não a encontro. e volta tudo ao mesmo.
sinto tudo isto cá dentro e não queria sentir. queria sentir, novamente, simplesmente a vontade de acordar todas as manhãs ao teu lado. sem pensar em mais nada. queria sentir-me novamente tonta. verdadeira. preferia não saber onde moram os medos e acima de tudo queria ser para ti aquilo que sei que pensas que és para mim.

this is why it gets so complicated !

" for women, love isn't a feeling. it is philosophy "