e, no entanto, estou deitada do teu lado na cama



enquanto falávamos, enquanto eu falava e não ouvias, enquanto eu calava e tu despejavas, estive ali sempre. aqui do teu lado, a ver-te destruir construções (que, afinal, mostraram-se ser de areia). prometi-te que ia ficar, que te ia amar e acalmar e que a culpa era, como sempre, toda minha. deitou-se a lua, nasceu o sol e não fui capaz de fechar os olhos. porque entretanto estive a recolher as pedras que me atiraste, os paus com que me feriste e construí um castelo. com uma porta de ferro e um dragão à entrada. fechei-me lá dentro e deitei a chave para o rio, cheio da água que de mim escorreu. 
tranquei-me. 
por uns dias ali quis ficar no segurança gelada das paredes de pedra. por uns dias não quis sequer espreitar a luz, com medo de que o quente do sol me fizesse pensar que era o teu toque que me aquecia novamente. 
e agora perdi a vontade algures nos corredores, comida pelas aranhas ou levada pelos morcegos que, afinal, viviam dentro de mim.
preciso ganhar novamente a vontade de pegar na tua mão, olhar-te e deixar as borboletas entrar bem cá dentro. preciso de novas e muitas borboletas! mas dizes-me que não me entendes, por ti está tudo bem. apenas depende de Mim.
mas não vês que estou na outra margem, estou por trás do portão e o dragão que contratei para me proteger de ti, simplesmente não se vai embora sem as palavras mágicas? não vês que tens de pegar na armadura e no cavalo, lutar contra os meus fantasmas, passar o rio e subir à torre mais alta? não vês que o meu coração só desgela quando souber que é isto que queres, é isto que desejas com todas as tuas forças? não vês que o feitiço não desaparece só com palavras soltas e vontades desfeitas?
porque, se não fores capaz de o fazer, então esta princesa ficará à tua espera, sem forças para sair sozinha.

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