quartas-feiras

talvez um dia abra os olhos de vez. talvez um dia aceite aquilo que, inevitavelmente, escondo dentro dos meus refúgios e finjo acreditar não existir. somos dois andantes a caminhar separados na mesma estrada. continuamos a fazer-nos crer que vamos em direcção ao mesmo destino mas nem sequer as nossas rotas foram traçadas no mesmo papel.
dia após dia, vamos trocando de papeis. 
ora choro eu por ti, ora lembras-te tu de mim. nem sempre nos queremos perto, mas a longevidade da postura acaba sempre por falar mais alto e encontramo-nos nos cruzamentos de nós

não sabemos viver de mão dada o nosso projecto, mas também não nos sabemos largar.

 não sei se por medo, se por amor raro ou insegurança.
as verdades boiam sempre nas ondas do porto que nos separa. e vamos alternando querer ser barco, querer ser ancoradouro. eu à espera que regresses do alto mar e tu a procurar o farol que te indique que ainda não te afastaste demais. 
Por vezes não sei se deveria simplesmente desligar a luz e deixar-te ir. as minhas paredes iriam ruir por completo, mas aos poucos talvez cada um de nós pudesse voltar a erguer-se da tempestade. 
não sei se não preferias deixar de procurar a luz para poderes encontrar o caminho pelo teu mapa de estrelas. cada vez mais sinto que vens ter ao porto para encontrar a segurança que necessitas quando à deriva te sentes perdido.

os ciclos repetem-se, os momentos de ilhas sucedem-se e, enquanto cada um de nós espera pelo regresso, vão-se colando às estacas de madeira as (in)verdades que as corroem. o tempo gira sempre à volta do mesmo ponto e os ponteiros têm sempre razão pelo menos duas vezes ao dia. vamos vivendo presos nos segundos reais de nós, nos sorrisos e nas gargalhadas soltas, verdadeiras e parvas. porque não conseguimos admitir cá dentro que a dificuldade de ancorar é demasiada e as asas querem-se para se ser livre.

um dia deixo-te ser livre de mim. hoje ainda não sou capaz. 
desculpa.

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