Dias sem horas

Estás a dormir ao meu lado há já um bom bocado, eu não tenho sono que me adormeça. Viraste-te agora mesmo para o meu lado, e abraçaste-me como se estivesses acordado com medo que o meu corpo pudesse fugir para longe do teu, e com ele levasse o espírito que nos acondiciona nas noites que aqui passamos juntos. Dormes sempre com a boca aberta, sabias? E fazes barulho a respirar. Dantes isso não me deixava dormir. Até que adormecia do cansaço das horas e dos minutos. Agora acalma-me a alma. É sinal da tua presença.
Fomos jantar fora hoje. Dia 6. O nosso dia. Aliás, um dos nossos dias. Porque mesmo que não marquemos no calendário, cada dia é só nosso. Porque cada dia tem um pouco mais de magia. Quis levar-te a um sítio diferente. Para que gostasses. Espero que tenhas gostado! Não era um sítio especial, mas tinha a vontade que te fosse divertido. Tens um espírito aventureiro e medroso, ao mesmo tempo. E gosto tanto de partilhar experiências novas e diferentes contigo. Acicatar essa tua vontade de conhecer e viver e partilhar emoções boas. E gosto tanto de confessar-te, igualmente, o meu espírito também ele medroso. Assustado. Quase infantil de mim.
Nunca me julgaste. Nunca me julgas. Abres a tua mão e fazes-me ter vontade de saltar para o tapete voador com o Aladino fez com a sua princesa Jasmine. "A Whole New World". É isso que quero poder fazer contigo. Conhecer o mundo de fora. Construir contigo o nosso mundo de dentro.
Aceleras a respiração. Será um pesadelo? Devo acordar-te com cuidado para que não te assustes? Será que se te encher de beijos agora e acordares, posso ter a desculpa que foi por estares em forma de sono agitado?
Acalmas. O pesadelo deve ter passado e perdi a oportunidade de te acordar com mimos. Talvez amanhã de manhã. Quando fores para o trabalho (se a minha birra matinal o permitir). Aquele que conseguiste e que levas muito a sério como eu nunca pensei. Sabes que te admiro? Muito. Admiro muito. Travas batalhas dentro de ti que eu nem sequer conheço. Serão como os moinhos de D. Quixote? Serei eu o teu Sancho Pança?
A verdade é que ultrapassas as batalhas com uma enorme capacidade de ti, de te conheceres e de amares as pessoas à tua volta com um carinho sempre inabalável. És detentor de um coração ao qual não conheço limites! Ainda me lembro quando batia tão forte e tão depressa que parecia que te saltava do peito. Efeitos da TSH, da T3 e 4. E, hoje, acalmam-se as siglas nas páginas A4 impressas pela médica, mas avulta-se o bater do lado esquerdo. Sereno e verdadeiro. O lado esquerdo que me trouxe até ti.
Imagino que um dia destes vamos adormecer na nossa cama. Na nossa casa. Com uma grinalda de luzes. Depois de uma outra charada de coordenadas para escolheres, ou qualquer outra ideia tola sem sentido que saia da minha cabeça na vontade de te surpreender e fazer sorrir. E, quando estivemos no ninho do minhon, vou danar-me pelas meias no chão e amar-te ainda (e cada vez) mais pela simples razão de seres o meu refúgio. Egoísta não é? O amor tem tanto de altruísta como de egoísta. Feio. Mas facto verdadeiro.
O brilhante e o obscuro de mim, quero dar-te a conhecer todos os dias.
Fascinas-me.
Entusiasmas-me.
Apaixonas-me.
E fazes com queira sempre mais uma hora, nem que seja só mais hora do dia. Para poder vivê-la contigo. Queria 25 horas do dia. Não, 26. Ou 27. Ou melhor. Os dias não teriam mais horas. Pelo menos para nós! Pode ser? Dias sem horas!
Vou enviar-te estas palavras, guardar o mundo e abraçar-te. Sentir o teu peito vivo a encher de ar. O calor do teu corpo no meu. O cheiro da tua pele nos meus lábios. O toque de ti no meu olhar. E amar-te em segredo. 
Até acordares de manhã. 

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