" e no Bairro mais alto do sonho "

tentei (obrigar-me) a acreditar que ia ser igual. e convenci-me disso por uns tempos. 
sabia bem que as aparências valem sempre pelo que valem, e as desilusões consomem os poucos fôlegos dissonantes que vamos tendo, à medida que os quadros escorrem pra um outro universo perdido nas dimensões do tempo.
convenci-me que podia ser contigo aquilo que foi, e era, com os outros. chegava-me perto de ti, não te ouvia nem falava. olhava mas não te via. e vinha-me.

[na mais pura e orgulhosamente egoísta forma de o fazer]

convenci-me por uns tempos, até, que as vontades de desejos eram meras gotas daquelas chuva que dizem molhar os tolos e, assim, eu ficaria encharcada sem sequer ter que perder muito tempo a pensar nisso. e as consequências seriam bastante óbvias; ninguém gosta de andar à chuva e tu, sem casaco para te protegeres, irias facilmente embora, virando costas a meus cabelos a pingar.
mas ficaste. 
e eu continuei a convencer-me de que seria apenas pelo calor das coisas e que, apesar de a chuva ter terminado, o frio de mim, e de minha pele na tua, seria perfeitamente competente para te virar do avesso e levar-te para os caminhos longe da poeira azul dessa estrada que (quase nunca) percorro.
achei que, se te ouvisse, te cansarias de me falar; e que, se te falasse de mais, te cansarias de ouvir. 
na demasiada verticalidade dos encontros perdidamente escondidos, te cansarias de esperar pelo prémio de consolação.
quis achar que, se te sorrisse o sorriso terno, te sentirias culpado, e que essa culpa te pesaria no corpo, mais do que a vontade que eu tinha de estar contigo
se eu conseguisse afastar-te de mim, antes de querer demais a tua presença, o problema estaria bem mais que resolvido, e não seriam precisos shots de whisky nem lenços de papel cor-de-rosa e aromatizados, para me ajudar a ultrapassar a tua não vivência em mim. a falta de um processo continuado na minha dorsal aflita.
mas, afinal, não te cansaste de falar nem de me ouvir. e eu fiquei ainda com mais vontade de te ouvir e de te contar o mundo, nas conversas de segundos sem paragens. não te sentiste culpado com o meu sorriso, e eu deixei-me levar pelo teu.
para onde?
não sei.
só sei que me raptaste em teus braços, no teu cheiro, no teu corpo, e que me levaste para um mundo que não sei onde fica.
( pergunto-me, por momentos, se as M's teóricas não, serão, na prática, mais reais que os sonhos em que acreditamos poder tocar ? )
se o abandonar agora , tenho a certeza de que ficarei perdida. não sei o norte nem o sul. e nem mesmo o sentido de orientação mais puro seria capaz de colocar na rota certa. porque, teria de saber onde estou e para onde quero ir.
e só sei que, por agora, quero deixar-me ficar por aqui. 

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