" da Th. "

uma noite foste lá a casa . deves lembrar-te, porque foi a única. 
esperei que saísses do importante jantar .preparei a cama .a média luz ..quase adormeci à medida que o relógio ia correndo cansado .quando chegaste nem sequer fiz um esforço para acordar e ganhar energia para te receber .não era preciso .contigo, era capaz de dar a volta ao mundo a pé, e não me queixar do cansaço nem das dores nos pés. (e nunca foste capaz de perceber isso! )
chegaste .olhaste-me e despiste-te, esperando que eu fizesse o mesmo .assim o fiz .
não queria nunca desapontar-te, nem nos gestos, nem nas acções .(e muito menos nas palavras...)
estávamos já deitados e suados quando o gato obeso entrou .mal o viste, a tua primeira reacção foi desatar a rir, daquela maneira tão parva e infantil com que te rias quando não pensavas em mais nada. viraste-te para mim com o ar de gozo e começaste a cantar "bólinha dxi futxibol, ólha a bólinha dxi futxibol".
e eu ri-me.
por ser parvo .por seres tu ao meu lado, a dizer-mo !
a partir desse dia sempre que me telefonavas lembravas-te do "bólinha dxi futxiból". e eu voltava a rir-me.
sempre.
por ser parvo .e por seres tu ao meu lado, a dizer-mo !
e desapareceste .nunca mais me falaste .e eu passei a fingir que não exististe.
e hoje fui lavar a loiça do jantar .e bebi o leite na caneca em forma de bola de futebol .e a "bólinha dxi futxibol" voltou-me ao pensamento .e ,por momentos, tive vontade de partir a loiça toda e atirar o escorredor mais o fairy e esponja pela janela .e a seguir partir as portas dos armários .e dessarrumar o chão ao mesmo tempo que fazia buracos nas paredes.
tudo isto porque, na verdade ,bem sabes que o meu corpo ainda não esqueceu totalmente o teu .
e tudo o que (não) fizeste e (não) me dizeste dói mais do que a realidade de teres deixado de ser real em mim.

( e este sentimento ainda revolta mais que o facto de simplesmente existir).

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